quarta-feira, setembro 15, 2010

32 O campeonato brasileiro que eu ainda não vi

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Eu nasci tricampeão brasileiro. Mais precisamente em outubro do ano de 1983. Apressado, nasci precoce de recém feitos oito meses.

Talvez fosse a ânsia em ver aquele clube do povo se tornar tetra, penta, hexa campeão brasileiro. Mal sabia eu, que algumas semanas depois o coirmão se sagraria campeão mundial interclubes. De uma família de 7 irmãos, apenas a minha mãe era colorada. E esta casou com meu colorado pai. Eu não sei como me tornei colorado. Também ninguém se lembra e é capaz de me dizer.

A verdade é que eu acho que já nasci rubro.

Minha memória mais antiga no que tange ao Inter remonta ao ano de 1989. Me recordo vividamente de estar acompanhado de meu pai, sentados em cadeiras de palha ao ar livre, ele tomando chimarrão e ambos mirando a televisão na sala dos meus avós. Ninguém com 6 anos assiste uma partida de futebol e se lembra dos detalhes, presta atenção nos 90 minutos, recorda lances e pormenores.

Crianças não assistem futebol do jeito que um adolescente ou adulto vê. Mas me lembro muito, mas muito bem de meu pai socando a mesinha de sala ao ar livre após sair um gol colorado. E é claro, está impressa na minha retina a carreta fantástica que tomaram as ruas da pacata cidade de Casca (interior do RS, 8 mil habitantes) após o jogo.

Aquelas camisas vermelhas da Coca-Cola, as bandeiras tremulando, os gritos, o êxtase. Naquele momento eu já era colorado fanático, mesmo sem nem entender nem compreender a dimensão do que acabara de acontecer.

Não recordo de assistir a “trágica” final contra o Bahia, e minha memória seguinte é o Inter carimbando a “faixa” do futuro campeão brasileiro Corinthians (retumbantes 3 a 0, no findo ano de 1990). Recordo que essa vitória foi decisiva para afastar de vez o fantasma do rebaixamento.

Não sei porque, afinal memórias, ainda mais de longa época são de alguma forma aquelas que nos marcaram de alguma forma, ainda vejo claramente o Lauro Quadros dizendo no dia seguinte no Jornal do Almoço que o Inter tinha desenterrado um sapo morto no Beira-Rio e afugentado de vez fantasmas do passado.

Em 1992, talvez o ano que realmente comecei a acompanhar o clube de forma mais consciente, o título da Copa do Brasil. Marquinhos, Gérson, Maurício, e o belíssimo gol de Caíco na final nos remetiam ao topo do futebol nacional. E dê-lhe carreata e orgulho de ser colorado. E como todo bom enredo que se preze, há de haver drama, suspense e tragédia.

E drama, meus amigos, foi o que não faltou nos anos seguintes.

Times medíocres, clube falido e refém de empresários oportunistas. Para colocar ainda mais a prova a fidelidade e a paixão ao colorado, o rival empilhava títulos. Forjava jogadores de brio, de entrega e talento. Enquanto isso, éramos relegados ao papel de coadjuvantes no cenário nacional.

Em 1995, com permissão dos meus colorados pais, faltei aula devido a inadiável e importantíssima missão de secar o coirmão contra o Ajax. Naquela gélida manhã, no outro lado do mundo, estava a imbatível camisa vermelha e branca, cores pelas quais eu nutria a maior paixão do mundo. Mas infelizmente não era o Internacional querido quem as trajava.

Sofredor, torcedor melancia, inter-regional. A gozação era grande, foram anos terríveis. E também foram muitos anos.

Mas nós éramos a resistência.

Vi Vasco, Cruzeiro, São Paulo serem campeões da Libertadores. E nunca esquecerei de ver Felipão levantando a taça pelo Palmeiras. As imagens de festa e celebração me machucaram demais. Não sei explicar porquê. Envolvo em lágrimas, me perguntei se um dia voltaríamos a ser protagonistas novamente. As dúvidas eram óbvias.

Será que um dia iríamos ganhar uma libertadores?

Teríamos o prazer de ir ao Japão enfrentar um Manchester United da vida? Voltaríamos à elite do futebol nacional, continental, e quiçá mundial? Hoje as minhas perguntas são um pouco diferentes.

Voltaremos a ser campeões brasileiros?

Pintaremos o Brasil de vermelho e entoaremos “Tetra Campeão” de norte a sul? Serei capaz de sentir na pele o gosto que a minha geração em diante ainda não teve? Anotem aí meus amigos.

Assim como foi com a Libertadores, tudo acontece na hora certa.

Talvez leve mais alguns anos. Talvez aconteça apenas depois de conquistarmos novamente o mundo. Ou de batermos na trave mais inúmeras vezes. Se você está triste assim como eu por provavelmente não ser 2010 o ano em que seremos campeões brasileiros, reconforte-se.

Pois tenho certeza que, depois de tanta espera, tanto desejo e tanta renúncia, quando acontecer, o sabor vai ser muito especial.