Escrito por Diana Oliveira
Alice é uma moça bonita, simpática, porém firme. Desprendida de valores morais ortodoxos, deixa-se levar pela emoção. Há alguns meses cultiva um relacionamento secreto com João, que é comprometido. Ora torturado pela culpa, ora inebriado pelo sentimento, João inclina-se a tomar atitude condizente com seu comportamento masculino: nenhuma atitude. Alice, entretanto, sabe que tal postura decisiva partirá de si e o fim desse envolvimento agora possui contagem regressiva, ao passo de sua dor, até que desista do amor e salve sua paz.
Nessa atmosfera de despedida os dois se encontram, Alice comporta-se com suave entrega, deixando-se amar, amando sem hesitar. João igualmente se envolve, sem titubear, contudo incrédulo de esta ser a última vez. Por mais que o ser humano busque acumular, desde bens materiais até anos de casamento, a morte sedimenta o valor histórico do que foi ou não vivido. Daqui nada se leva. Fica o registro a ferro em brasa no fundo do peito, pelo tanto de vida que dali floresceu.
Não há como retroceder, pois Alice faria tudo de novo. Não há como paralisar, o relógio não permite. É preciso entender que os ciclos se fecham, mas é tão doloroso... Não sei se a Era Fernandão acabou... Um dia ele terá que partir. A fuga nostálgica dos racionais está no verbo eternizar, mas a verdade é que nos momentos mais significativos de nossas vidas, quando a emoção clama por um grito, suspiro, choro ou gemido sôfrego, quando Tinga marcou com el parietal, quando Rafael Sóbis correu gramado afora de bandeira em punho, quando Iarley humilhou Puyol, quando Fernando Carvalho dançou esquisito na tribuna do estádio de Yokohama e quando Alice beijou apaixonadamente João pela última vez, mesmo com toda determinação de que pra frente se anda, nenhuma outra vontade esteve presente que não fosse dizer:
- Fica mais um pouco...