A vida certamente passou com mais vagar pelos nossos ancestrais. Somos a geração do tempo que voa e pouco nos permitimos desfrutar o detalhe dos acontecimentos marcantes. Ingressei na faculdade de arquitetura aos dezoito, me formei em cinco anos, já estou no mercado de trabalho a seis e parece que foi ontem o trote que dei no Rodrigol... Escolhi uma profissão de colorada, sofrimento à exaustão. Entre tapas e socos da vida acadêmica, teórica e mais tarde prática, em raros momentos relembrei a ocasião da estreante nota máxima que me foi concedida na mais importante disciplina do curso, projeto.
Foi com os professores Paulo e Eliane, um casal além de casado, sócios de escritório e colegas de docência na UFRGS, fato até hoje incompreendido por nós, meros mortais, duas pessoas passarem anos convivendo em tempo integral e seguirem juntas... Essa dupla direcionou minha personalidade arquitetônica, envolveram-me no universo das formas e tiveram de mim uma dedicação de monge. O resultado de mútuo esforço foi o projeto de uma escola no bairro IAPI, que de acordo com a avaliação deles mereceu o conceito A.
A célebre frase dos graduados em seus discursos de formatura também evidenciou meu árduo destino, num dia somos o futuro do Brasil, no outro, desempregados. Da correria incessante, do cansaço em horas intermináveis de trabalho, da sensação perfeita de parecer um verme quando o cliente faz um particular escândalo na obra, disso tudo guardo uma coleção memorável, o que pouco me dei o direito de reviver foi o dia em que recebi meu primeiro A em projeto. Estávamos eu e o professor Paulo na sala de aula, eu fui até a faculdade pra saber a nota, ele me disse “Diana, passaste com A e tenhas a certeza de que estás na profissão certa.”
Recordei esse momento hoje de manhã, o motivo foi a cerimônia de ontem no centro de eventos do Beira Rio, lugar bonito, amplo, combinação de rústico nos pisos de solarium, madeiras de eucalipto e forro de sapê, em contraste com as diversas telas de tv e luminárias exuberantes espalhadas pelo salão. Logo na entrada uma imponente lareira cercada por ambiente de estar recepciona os convidados e, no caso desta noite especial, muitos, mas muitos quadros com fotos lindas do mundial, misturando-se ao público evidentemente encantado.
Esse ano veio nos atropelando num trote massivo de tal forma que não nos demos o direito de saborear o máximo êxito de outrora. Todos os dias amanhecem com gosto de presente, a noite anterior com ressaca de pretérito e o fim do dia com expectativa de futuro, mas é injusto condenar ao remoto, profundo ou escondido paraíso da memória algo tão insuperavelmente explosivo e maravilhoso quanto o título de Campeão do Mundo.
Eterno Fernando Carvalho, com seu discurso de emoção contagiante, ou prova que não estou delirando, ou nos une pela mesma loucura. As imagens, os gols, os abraços, os gritos, até o Galvão Bueno e sua narração frenética me deixaram em estado de transe, meu corpo imobilizou enquanto minha alma passeou pelo tempo e juro, volta tudo. O gol do Gabiru acelera batimentos cardíacos. O fim do jogo traz um choro que os padrões da sociedade me poliram (ou mutilaram) o suficiente pra ser contido. A vida me fez olhar adiante, mas é minha história de paixão alvirubra que me proporcionou estar aqui, o Gringo, o convite pra ontem estar lá e o colorado... ah o colorado... me deu a dor de sentir por ele, a alegria de torcer pelo clube do povo e a inebriante sensação de ter chegado ao topo do mundo.
Levantei da cama nessa manhã de sol parafraseando o Pedro Ernesto, foi demaaaaaaaaais!!!!
E pros que desanimaram com 2007... calma Toshiro.