terça-feira, outubro 21, 2008

30 É Inter x Boca, porra!

30

Há quatro anos eu chegava em casa ansioso. Tomava um banho rápido e me fardava. Preparava uns petiscos, tirava cerveja do freezer, hasteava a bandeira do Inter na sala e lacrava o volume da TV. Quase não acreditava: o Inter ia jogar contra o Boca Juniors! Qual a competição? Qual a fase? Ah, isso pouco importava. O Inter estava se alinhando a novos adversários, mais poderosos que os dos dez anos anteriores. Isso é o que contava. O colorado estava voltando a ser, de fato, internacional.

Primeiro tempo: 0 x 0 e o Clemer já havia levado um cotovelaço “inocente” do Schelotto. Segundo tempo e eu deslizei de joelhos para comemorar o gol de Sóbis. Sabe aqueles jogadores ingleses deslizando de joelhos nos gramados úmidos da Grã-Bretanha, que parecem mais perfeitos que o meu recém comprado tapete da sala de estar? Pois é, fiz igual a eles. Deslizei de joelhos no meu tapete seco da sala de estar. É que mesmo torcendo pela TV, eu dou o sangue pelo meu time. Boca 0 x 1 Inter, em plena Bombonera, e eu com os joelhos ralados no chão da sala! Não encontro definição melhor para felicidade!

Tenho certeza de que muitos outros colorados também trilharam seus tapetes, quebraram seus controles remotos, viraram suas cervejas e coisas assim ao comemorarem aquele gol. Naquela época (nem faz tanto tempo assim), a gente era feliz com bem menos!

Em 15 minutos tomamos quatro gols, mas bastou mais um do Diego (um dos gêmeos, lembram?) para fazer renascer a esperança colorada na supervalorizada Copa Sul-Americana. E na semana seguinte o Beira-Rio estaria lotado e viveria um clima de decisão que há anos, mas põe anos nisso, não se vivia. Sem contar que já no jogo de ida, lá na Argentina, mais de 3 mil colorados estiveram presentes na Bombonera. Isso é o que eu chamo de dar valor ao que se tem!

Pois, bueno, amanhã tem Inter x Boca, de novo. Pela Sul-Americana, de novo. Mas desta vez, não tem mais aquele charme. Tá bem, a primeira vez é a primeira vez e todas as outras, são as outras. Mas não é bem aí que muda a forma da torcida encarar o jogo de amanhã.

Tudo bem que amanhã o Boca vem misto, vem meia boca. Êta trocadilhozinho surrado esse! Mas fazer o quê? É fato. Também há que se considerar a decepção do Brasileirão deste ano e a expectativa de Libertadores cada vez mais distante do ano do centenário. Isso tudo tá tirando um pouco o brilho do jogo de amanhã. Até aí, são circunstâncias aceitáveis.

Agora, o que não dá pra aceitar, é torcedor colorado de salto alto, isso não dá! Porque em 2006, a gente ainda tava naquela, as quatro velhas estrelinhas no peito e uma delas era da Copa do Brasil. Nosso cartel de jogos internacionais recentes era escasso, mas a torcida nas arquibancadas fazia do Beira-Rio um caldeirão, fosse contra o Maracaibo, campeão da Venezuela, fosse contra o São Paulo, campeão de tudo.

Até 2006, tudo o que viesse era lucro, mas nem por isso a torcida pensava pequeno, nem por isso se satisfazia com pouco. Só que até então, se valorizava cada dividida, cada desarme, cada lateral. Foi aquela torcida que fez 1 x 0 contra o Boca no último segundo. Foi aquela torcida que substituiu o Tinga contra o São Paulo em 16 de agosto. E aquela torcida é a mesma de hoje, a mesma de amanhã.

Amanhã à noite, tem Inter x Boca Juniors no Beira-Rio. E não quero saber por que competição nem por que fase. Não quero saber se é time completo ou meia boca. E também não quero saber se a lua vai estar brilhando ou se vai cair o mundo na hora do jogo. Amanhã, eu quero começar a cobrar uma conta que ainda está viva na minha memória. Amanhã, eu quero fazer, mais uma vez, parte da história colorada e do futebol gaúcho. Amanhã, eu quero ver o Inter mastigar o Boca em campo. Com os incisivos (Índio e Bolívar) corta, com os caninos (Edinho e Magrão) rasga e com os molares (Alex, Nilmar e D’Alessandro) tritura.

Mas mais que isso, quero ver a massa colorada matando a pau nas arquibancadas, com sangue nos olhos ao lado dos jogadores, vibrando a cada lance, a cada dividida, a cada desarme! Porque amanhã, cada colorado que entrar ao Beira-Rio tem que ser um Guiñazú. Tem que contagiar o time em campo e fazer com que o grito da galera supra a ausência do “perro loco” no gramado.

Amanhã é dia! Amanhã é o dia! E eu já tô com água na boca!

VAMO INTEEEEERRR!!!!!