segunda-feira, outubro 27, 2008

27 Interpretações

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Cada vez mais eu me convenço de que as pessoas lêem e escutam o que querem, ao invés do que foi escrito ou pronunciado. Esperta é a imprensa maliciosa, que faz muito uso dessa manobra. A manchete enfatiza algo que, ao ler na reportagem, pode ser bem ameno. “Alex joga a toalha”, traz o título. Ora, o que se entende pela expressão jogar a toalha? Desistir, abandonar, dar por encerrado, impossível, inatingível. Ainda no título, que segue no tom “Vaga na Libertadores é difícil”, agora anunciando palavras do próprio atleta, não consigo identificar o que o primeiro termo quer dizer. Desde quando alguém admitir que determinado objetivo tornou-se muito difícil de ser alcançado, virou sinônimo de desistência? Que seja numericamente quase impossível. Que seja, de fato, só por milagre. Pode-se perceber que a manifestação consciente do Alex é que, realmente, está muito distante a possibilidade, é preciso somar 20 pontos dos 21 ainda disputados. É claro que analisando as atuações inconstantes apresentadas até aqui, a gente se olha no espelho e entende os limites. Não é a isso que me refiro. Somente quero saber por que o título usa uma expressão subjetiva e assim transmite algo que o cara não disse?

Quando foi anunciada a titularidade do goleiro Lauro e, por conseqüência, a reserva de Clemer, havia uma manchete que dizia: Clemer fica chateado com a reserva. Era um vídeo, apertei o play e (juro!) em nenhum momento o Clemer disse que estava abatido ou o que valha. Falou pouco, mostrou um tanto de constrangimento, mas não disse nada de estar chateado, pelo contrário, respondeu sempre que a decisão era do treinador, que o Inter é maior que o jogador. Aquele discurso pronto, reconheço, mas ainda que nos pareça frase feita, é o que ele deseja transmitir. São, inegavelmente, as suas palavras. E se a mim, a ti, ao repórter e à vovozinha parece que ele está cabisbaixo, podemos, no máximo, usar os famosos “dá sinais”, ou, “indica”. Mas daí a botar palavra na boca do fulano, é demais. Mesmo que não tenha usado um termo forte, contundente, o título é direcionado, te induz a concluir precipitadamente. Isso é subjugar a inteligência dos espectadores. Irrita.

Mudando um pouco o foco, temos alto espírito crítico com nosso time. O coloradismo é feito muito disso, traços de personalidade que vão marcando a torcida. Igual a tudo na vida, trata-se de uma postura com prós e contras. O bom está no fato de pouco nos deslumbrarmos, parte da torcida jamais permitiria, em fase de afirmação (tardia) no campeonato, que o site do clube exibisse a frase “Quem joga mais que Alex no Brasil?”. Pra que isso? Ganha título? Ajuda a equipe em alguma coisa?
Que besteira mais sem nexo.

Então, vejamos, tu que me estás lendo. Tá escrito aí que eu tenho algo contra o futebol do Alex? Não né? Se sim, lê de novo, por favor. Eu reprovo a ostentação individual, enquanto o grupo oscila entre a glória do grenal e o terror do Coxa. Essa pergunta do site me obriga a responder: Tá, ninguém joga melhor que o Alex, mas e daí professor? E o campeonato?

Agora, se eu não escrevo o anterior parágrafo, aposto que abro os comentários e vejo algum, de preferência eloqüente, me chamando de louca por falar do Alex. Isso também irrita.

Mas voltando à torcida e antes disso só mais uma historinha. Eu tinha uns 20 anos quando passei pela fase mais fudida na Faculdade de Arquitetura. Era a reunião de muitas coisas, o excesso de exaustivos trabalhos, as muitas horas letivas, as poucas dormidas e pra completar, minha inocente e imatura vida. Nessas madrugadas, em véspera de entregas curriculares, em meio a um mar de papel, lapiseira, caneta, tinta e lágrimas, meu irmão mais velho, engenheiro, Eduardo, já corcunda de fazer a maquete pra irmã, me olhava com firmeza e dizia com autoridade que eu ia conseguir acabar, salvando o semestre.

Algumas vezes eu passei com A, outras, com B e também C. Eu nunca rodei, em qualquer disciplina. Mais tarde confessou-me o Dudu que todas as evidências escancaravam que eu não ia dar conta. Ainda bem que ele, naquelas horinhas brabas, nunca me disse a sua verdade. Ele apenas torceu pra que eu me superasse e ajudou no que podia. Do contrário eu desistiria, sentaria no chão com risco de grudar a bunda em pingo de Super Bonder, e choraria a tristeza de reprovar o semestre antes mesmo de terminar, ainda que faltando poucas horas pro fim. E é desse jeito que eu torço, pra camisa, que ela nunca desista.