quinta-feira, março 26, 2009

110 Brava gente

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Há tempos vinha cultivando angústia com o comportamento da população brasileira em geral, no que diz respeito a manifestos, opinião, atitude ou qualquer termo que defina participação política e social na vida do país. Temos o hábito de queixar-nos dos políticos, mas quando perguntados sobre política, respondemos que não gostamos do assunto. Reclamamos de abusos de impostos, mas quantos de nós saímos às ruas pra manifestar descontentamento? No Brasil, a pessoa que fala em lutar por direitos é chata. Todo mundo fala em distribuição de renda, mas ninguém faz trabalho comunitário. Adoramos filmes que retratam violência urbana, conseqüência da díspare escala social, mas nunca vi um brasileiro contando que após assistir Cidade de Deus, foi prestar serviços à favela.

Não que seja necessário passar um dia da semana lecionando aos analfabetos do Acre, mas é chocante a falta de iniciativa da população pra um protesto, em especial a parcela de menos idade, que se preocupa com tanta coisa pequena, medíocre até. Brigam com voracidade em estádio, mas não dão um passo pra fora de casa se for pra manifestar posição política.

No ímpeto de ser um grupo de torcedores ativos na vida política do clube, nasceu o movimento INTERnet/BV, do qual faço parte e que hoje figura com vinte e cinco conselheiros no Clube. O que nos moveu é exceção no Brasil, o desejo de estar presente e não apenas aplaudir. Desde nossa eleição tenho notado, com grata surpresa, que existe sim, gente querendo mais da vida, mais de si, mais dos outros, enfim, pessoas dispostas a subir degraus evolutivos por meio de pensamento, palavra e ação.

Na noite de ontem tivemos o jantar de recepção a novos integrantes do movimento. Meu quadro de sôfrega tortura por apatia vem diminuindo, pois de lá saí entusiasmada com a presença dos interessados, dispostos e curiosos pela causa. Pessoas diferentes com o mesmo pensamento: participar da vida do Sport Club Internacional. Gente que brilha os olhos no som da palavra idéia.

Eis que hoje pela manhã abro o jornal e vejo o manifesto dos estudantes de Porto Alegre contra a governadora do Estado. Não venho aqui julgar Yeda Crusius, não estou entrando nesse mérito. Quero tão somente saudar a atitude da classe estudantil, por fazer mais que colecionar pares de tênis. Se tiver consistência o motivo do protesto, julgaremos cada um por si. O que faço agora é aplaudir a iniciativa pacífica, porém firme, de mostrarem algo que temos e devemos crer que é importante - opinião.

O Estado do Rio Grande do Sul há anos enfrenta uma crise que é reflexo, entre fatores externos e falta de chuva, da ausência de iniciativa popular, tanto no que diz respeito a manifestar-se, quanto no que tange a renovação das velhas formas de viver. Não sei em que parte do caminho nós gaúchos perdemos a virtude que nos move, a coragem de tentar. Se até no exemplo do Inter constatamos que foi justamente o pensamento inovador que nos trouxe de volta ao lugar onde agora exaltamos ocupar. Talvez em nossa recente trajetória colorada eu possa identificar o primeiro sinal de retomada na vanguarda dos pampas... Talvez. Não tenho respaldo histórico pra tamanha afirmação.

Só queria hoje lembrar que como “Nação Gaudéria”, estamos estáticos faz tempo e este belo dia de sol intenso, com vida do céu até o Guaíba, despertou-me a leve sensação de estarmos reaprendendo a andar.