terça-feira, março 03, 2009

31 De volta às origens

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Se há um erro que não posso cometer é o de negligenciar a cultura da comunidade na qual vivo. Valorizo minha história, minha origem, minhas raízes. Sou fiel a valores e princípios em respeito ao conhecimento que os mais velhos adquiriram pelejando, pois quem aguenta as porradas que a vida nos dá, levanta e segue lutando, invariavelmente, vence!

Faço essa breve introdução para confessar que ultimamente eu vinha deixando de dar valor ao rival citadino. Respeito aquele clube enquanto adversário, pois, no futebol, é inegável que, apesar de tropeços monumentais em sua trajetória, também tem admiráveis conquistas. Contudo, já fazia um bom tempo que os grenais não vinham me empolgando mais. Mas como disse antes, é um erro que não posso cometer.

Não tenho dúvida de que uma das características da minha personalidade que me fazem ser colorado é a admiração que tenho pela história daqueles que superaram grandes desafios, com garra e perseverança. E se valorizo a história do meu clube, não posso deixar de reconhecer que o primeiro passo para conquistar o mundo foi estabelecer a hegemonia regional. Pois esta, antes de nos pertencer, pertencia ao citado rival.

Contudo, nesse fim de semana fui contagiado pelo sentimento de pessoas ao meu redor, que me fizeram vivenciar o grenal de domingo como há anos, muitos anos, eu não vivenciava. É verdade que eu não fui ao estádio e provavelmente isso fez com que uma certa angústia me contagiasse de modo especial. Estar tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe, definitivamente, mexeu comigo. Só sei que foi algo positivo.

Não sei se a vantagem estrutural do Inter sobre o Grêmio continuará a se repetir também dentro de campo. Não sei se a grande vantagem de vitórias sobre o rival se ampliará e se tornará praticamente inalcançável. Não sei se a escassez de títulos de expressão do Portoalegrense manter-se-á por muitos mais anos. Talvez, se isso tudo acontecer, daqui a alguns anos o grenal terá a mesma expressão de um Real x Atlético de Madri. Não importa. O importante é que valorizemos nossa história, a rivalidade, o rival e, assim, nos mantenhamos sempre fiéis às nossas origens, pois isso, também é parte do que nos faz grandes.

Nossa torcida, bem sabemos, não é fácil de agradar. Vínhamos cobrando muito do time, do clube. Resultados não nos bastam, queremos segurança. Isso se explica, já sofremos muito no passado. Nós, colorados, sabemos bem que as grandes conquistas não são obra do sobrenatural nem fruto do acaso. Igualmente, derrotas não se explicam tão-somente por erros de arbitragem ou por culpa única e exclusiva de um bode expiatório qualquer. Sabemos reconhecer os nossos erros e as virtudes do adversário. Assim, e somente assim, nos mantemos grandes nas vitórias e honrados nas derrotas. Talvez isso explique porque ultrapassamos o rival há tanto tempo e, desde então, jamais fomos superados. Mas isso é só um jogo, apenas resultado. O grande mérito está na postura que adotamos nos confrontos, nas batalhas.

Foi bom resgatar alguns sentimentos do passado nesse jogo, isso me rejuvenesceu, me renovou as energias. Foi bom voltar a valorizar o rival, relembrar que vencê-lo, um dia, foi o primeiro grande desafio do meu clube. Foi bom ver a festa da torcida colorada, num simples grenal de primeiro turno de Gauchão. Quem sabe com essa vitória, nosso time também resgate um pouco daquele velho espírito, daquela velha humildade do Inter, e faça, neste ano do centenário, o povo vermelho reviver, dentro de campo, os mais dignos e belos momentos da história colorada.