O tempo não para. Há momentos da vida que ficam marcados, guardados na memória. Bons e ruins, alegres e tristes, mas o tempo não para. Muitas vezes tentamos congelar o tempo, querendo que determinados momentos não terminassem nunca. Outras vezes, gostaríamos de voltar no tempo, para reviver momentos especiais que ficam cada vez mais distantes. Mas o tempo não para.
Talvez a melhor maneira de viajar no tempo seja, justamente, celebrar a sua passagem. Se você não pode vencê-lo, junte-se a ele. Então, já que não dá para parar o tempo, nem voltar nele, admitamos que ele segue e celebremos o tempo decorrido.
Essa coisa do centenário do Inter, a contagem regressiva, a ansiedade pela chegada do dia em que o clube celebrará os seus cem anos me deixou assim, filosofando sobre os grãos de areia que caem pelo estreito espaço de uma ampulheta. Quando a areia acaba de cair de uma extremidade para a outra, a contagem desse singelo objeto para. Mas quando o viramos novamente, os grãos de areia seguem caindo e não param, não param, não param...
Divagando sobre o tema, vem a nostalgia inerente a nós todos, seres humanos. Temos saudade da inocência da infância, da impetuosidade da adolescência, da força e da capacidade da fase adulta. Lembramos com carinho daquilo que passou, com a certeza de que, soubéssemos ou não, éramos felizes.
Eu chego a ter inveja daqueles que viveram o passado que eu não vivi. Queria ter visto os Eucaliptos repletos de povo, povo vermelho! Queria ter visto o Rolo Compressor dando alegria a uma massa humilde, identificada com a camisa rubra e com os jogadores que a vestiam no gramado. Ah, Clube do Povo! Naquela época essa frase devia ser muito mais que um slogan, devia ser uma realidade. Realidade que não vivi.
Também invejo que viu o Beira-Rio ser erguido sobre as água do Guaíba! Gigante de concreto, construído pela própria torcida. Cem mil pessoas, cem mil colorados! Cem mil privilegiados! Nos anos seguintes, um dos melhores times de futebol que o mundo já viu conquistaria o Brasil por duas vezes seguidas e mais uma invicta!
Só que o tempo passa, o tempo não para. Quem parou no tempo, e por um bom tempo, foi aquele gigante que adormecera ainda antes de eu conhecê-lo bem e, depois, parecia que nunca mais ia acordar.
Eis que surgiu um novo tempo, uma nova era. Hoje, há pouco tempo do dia em que celebraremos os cem anos do Inter, podemos dizer que o clube não só resgatou a sua grandeza, mas foi além. Superou suas marcas e, mais uma vez, fez história.
Mas embora eu tenha vivido essa fase magnífica, ela também já faz parte do passado. Um passado para o qual tenho vontade de voltar, momentos que eu gostaria que jamais tivessem terminado. Só que o tempo não para.
Há duas maneiras de reviver o passado. Uma, é fazendo aquilo que tanto esperamos para os próximos dias: celebrando. A outra, é bem mais difícil, bem mais complicada. Mas se o time que jogava na Rua Arlindo conseguiu superar seus rivais locais, conseguiu erguer um Gigante à Beira-Rio, conseguiu ser campeão nacional, continental e mundial, seguir essa senda de vitórias, profeticamente consagrada na letra da poesia que se tornou o hino de todos os colorados, não pode ser uma mera tarefa, deve ser a nossa missão.
O tempo não para e o Inter jamais o deixará de acompanhar. O centenário está chegando, as celebrações passarão, mas surgirá o amanhã e o Inter estará na frente, cabeça a cabeça com o tempo, que não cede, não para e jamais poderá ser detido.
Vamo, Inter! Vamo, Inter! Eu, como sempre, também vou contigo!