segunda-feira, março 02, 2009

78 O iluminado II

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É curiosa a relação que se estabeleceu entre torcida e time colorado, uma é eterna inquieta, espiada, provocativa, insaciável, (quando não) incansável. O outro é o time, a razão e causa de tudo acontecer, tem mais que agüentar a pressão mesmo, dizem alguns. Calma, pedem outros. A tolerância é mínima com tropeços, um vacilo pode se tornar constrangedor e até traumático. Eu já vivi momentos em que acreditávamos juntos, time e torcida, no mesmo êxito, os caras se esforçavam no gramado, o concreto se empenhava no apoio e acabávamos, todos, derrotados.

Mas no Internacional, desde o ano passado parece que há um código de conduta entre as partes. Eles se bicam, mas não se tapeiam; se enroscam, mas não se beijam; se provocam e se respeitam. Parecem casal onde silêncio é tédio e terminar, nem pensar! É tamanha equivalência de forças que em todo confronto decisivo estas metades que outrora até se repeliram, encontram a mesma órbita e unidas, fortalecidas, tornam-se imbatíveis. Eu diria que esse fenômeno teve início no inesquecível agosto de 2006, mas não, ali se quer havia atritos entre os amantes. A relação tomou esse rumo depois, em virtude da seqüência turbulenta e desentendida no ano seguinte. Tendo se estabilizado em 2008.

Acho que o despertar dessa paixão veio mesmo no jogo contra o Paraná, pela Copa do Brasil. Só que os manés perderam pro Sport e a torcida, obviamente, mandou longe. Ficou aquele clima “separados na festa, mas cuidando de longe”. Um olhando pro outro, “só pra saber”. Porém, outros compromissos surgiram desde então, Porto Alegrense, Parmêra, São Paulo Fashion Club, Boca! E, sabedores de sua força conjunta, resolveram adotar o “eu só quero você, e mais nada”. Amor sem cobranças, uma noite apenas, delírio e desejo sem pensar no futuro e por aí vai. A fórmula deu certo, ainda que ambos sejam incapazes de sustentar tanto desapego. Volta e meia trocam farpas, até o momento do próximo encontro marcado.
Ontem não foi diferente. Foi amor à queima roupa.

Teve tanto envolvimento exposto naquelas quatro linhas, a taça, o clássico, os fortes, os fracos.
Foi como queremos: digno e contundente. Mais uma vez, o rival é freguês. Há tantas histórias
neste centenário de vida colorada, que até o gol da vitória relembrou o passado e deixou sutil recado: Esse grupo não é bobo e não foge da briga, seja com adversário, seja com sua torcida. Se nos faltava algum aviso, pra dar o tom da mandinga, o sol se escondeu foi de birra, estrela que é. Foi gol iluminado parte II, de óculos escuros. 2009 promete.