ESCRITO POR RAFAEL SEVERO
Dos altiplanos esverdeados dos campos de cima da serra há um corte abrupto no solo, que descortina o imenso vale que desce em diagonal por cerca de mil e trezentos metros, na direção azulada do mar. A visão é plena, única e arrebatadora. Capões de araucárias fazem companhia e completam o cenário, emoldurando-o por sobre as ondulações verde-amareladas pra onde quer que se olhe. O local há muito transgrediu o conceito óbvio de beleza e absolutamente nada macula o escopo generoso de suas formas.
Minha avó assim descreve o paraíso. Pelo menos, o paraíso dela. Nascida em São Leopoldo, Elygia Maria Velho Severo foi levada quando ainda criança de colo para a fazenda do pai, no município de São José dos Ausentes, simplesmente o local mais alto e belo deste estado.
Ela me narra que passou a infância por lá e que nas terras da família havia um lugar de beleza sem igual, denominado Chapada Bonita. A narrativa da “véinha” é detalhadamente rica, lúdica e, sobretudo, lúcida. E me soa assim saudosa, quase chorosa. Mas não é um choro de tristeza. Há um relevo melancólico em suas palavras, é verdade, mas sempre emanado em tom de uma felicidade nostálgica. Pra mim, é meio triste. Pra ela, no entanto, aquilo é que era vida e estava arraigado de modo essencial à sua formação.
É claro que já ouvi um milhão e trezentas mil vezes as aventuras da minha avó em sua Chapada Bonita, mas por mais repetitivas que sejam, sempre colho algum dado novo e interessante. Sem eles, não poderia contar aqui sobre os banhos que minha avó tomava nas águas cristalinas dos rios de fundo de pedra ou de grama, era só escolher... Dos invernos impiedosos de ventos cortantes e de congelar os ossos. Das brincadeiras na neve com os irmãos. Dos pés “rachados” pelas geadas no campo. Da vista indescritível que tinham do alto da Chapada Bonita. Da neblina que subia do vale, fazendo a noite se antecipar. Do camargo (espécie de café com leite espumoso, da região) quentinho logo cedo. Das viagens a cavalo do pai.
Juro que se ela me contar mais umas três vezes essas histórias eu sentirei até o cheiro do lugar e escutarei o estardalhaço da gralha azul... Mas juro também que a levarei até o local novamente, pois minha avozinha está com 82 anos e acho que não há nada mais justo do que presenteá-la com um passeio de reencontro com a sua Chapada Bonita. Inclusive, estou finalmente providenciando a retirada tardia da minha carteira de motorista, – sim, não tenho carteira de motorista, e daí? – pois esta tarefa é minha, só minha!
Onde quero chegar com tudo isso? Quero dizer que passei minha infância, adolescência e parte da minha vida adulta sonhando com meu paraíso perfeito, com a minha Chapada Bonita. Temporão, ele finalmente revelou-se ano passado. Final do ano, melhor dizendo. O engraçado é que eu não estava fisicamente presente no lugar... meu paraíso cabia todo dentro de uma tela de TV.
Por noventa minutos, eu pude finalmente desvendar meu “altiplano verdejante”, meu local perfeito e preferido. Hoje eu sei: Yokohama é a minha Chapada Bonita. E afirmo: antes tarde do que nunca!
Minha avó levará oitenta e poucos anos para reencontrar seu paraíso. Eu não sei se terei a mesma paciência dela para viver tanto. O que eu espero, isso sim, é viver o suficiente para, quem sabe, um dia, reencontrar a minha Chapada Bonita.
Minha avó assim descreve o paraíso. Pelo menos, o paraíso dela. Nascida em São Leopoldo, Elygia Maria Velho Severo foi levada quando ainda criança de colo para a fazenda do pai, no município de São José dos Ausentes, simplesmente o local mais alto e belo deste estado.
Ela me narra que passou a infância por lá e que nas terras da família havia um lugar de beleza sem igual, denominado Chapada Bonita. A narrativa da “véinha” é detalhadamente rica, lúdica e, sobretudo, lúcida. E me soa assim saudosa, quase chorosa. Mas não é um choro de tristeza. Há um relevo melancólico em suas palavras, é verdade, mas sempre emanado em tom de uma felicidade nostálgica. Pra mim, é meio triste. Pra ela, no entanto, aquilo é que era vida e estava arraigado de modo essencial à sua formação.
É claro que já ouvi um milhão e trezentas mil vezes as aventuras da minha avó em sua Chapada Bonita, mas por mais repetitivas que sejam, sempre colho algum dado novo e interessante. Sem eles, não poderia contar aqui sobre os banhos que minha avó tomava nas águas cristalinas dos rios de fundo de pedra ou de grama, era só escolher... Dos invernos impiedosos de ventos cortantes e de congelar os ossos. Das brincadeiras na neve com os irmãos. Dos pés “rachados” pelas geadas no campo. Da vista indescritível que tinham do alto da Chapada Bonita. Da neblina que subia do vale, fazendo a noite se antecipar. Do camargo (espécie de café com leite espumoso, da região) quentinho logo cedo. Das viagens a cavalo do pai.
Juro que se ela me contar mais umas três vezes essas histórias eu sentirei até o cheiro do lugar e escutarei o estardalhaço da gralha azul... Mas juro também que a levarei até o local novamente, pois minha avozinha está com 82 anos e acho que não há nada mais justo do que presenteá-la com um passeio de reencontro com a sua Chapada Bonita. Inclusive, estou finalmente providenciando a retirada tardia da minha carteira de motorista, – sim, não tenho carteira de motorista, e daí? – pois esta tarefa é minha, só minha!
Onde quero chegar com tudo isso? Quero dizer que passei minha infância, adolescência e parte da minha vida adulta sonhando com meu paraíso perfeito, com a minha Chapada Bonita. Temporão, ele finalmente revelou-se ano passado. Final do ano, melhor dizendo. O engraçado é que eu não estava fisicamente presente no lugar... meu paraíso cabia todo dentro de uma tela de TV.
Por noventa minutos, eu pude finalmente desvendar meu “altiplano verdejante”, meu local perfeito e preferido. Hoje eu sei: Yokohama é a minha Chapada Bonita. E afirmo: antes tarde do que nunca!
Minha avó levará oitenta e poucos anos para reencontrar seu paraíso. Eu não sei se terei a mesma paciência dela para viver tanto. O que eu espero, isso sim, é viver o suficiente para, quem sabe, um dia, reencontrar a minha Chapada Bonita.
22 Comentários:
Nao me aguentei...
Eu se fosse tu, me contentava com nao cair aí nesse buracao por enquanto...ehehehehe.
sds severo...
agora fui de vez...
Só um OFF...
Alguns colorados aqui falavam que não gostavam de ouvir o Tema da Vitória. Pois agora a torcida do menguito resolveu adotar a música e pra variar a mídia global dando TODA a atenção, inclusive entrevistando o autor. É por isso que simpatizo com a proposta de separação dessa m@#$% de país! Não há o que se faça no sul que se tenha reconhecimento igual do centro do país...
POR QUE NUNCA HOUVE NENHUMA MANIFESTAÇÃO DA GLOBO SOBRE A MUSICA QUANDO SE CANTAVA SOMENTE NO BEIRA-RIO???
Por isso que fico p. da cara quando vejo colorados corneteando a popular por aqui! Não sabem dar valor ao que é nosso!
Olha a porra da noticia aí!
http://globoesporte.globo.com/ESP/Noticia/Futebol/Campeonatos/0,,MUL145011-4276,00.html
Rafael, pra voltarmos à nossa Chapada Bonita temos que ser tipo o Boca, um INCANSÁVEL PERSEGUIDOR DE TÍTULOS!
rafael,
lindo texto, mas eu penso um pouco diferente, quero esquecer. esquecer os pontos perdidos, a falta de atitude, enfim, esquecer o q me fez mal. depois q isso tiver bem superado, vou voltar a almejar um novo título, um novo colorado, um novo campeão.
Boa Denilson, olha o mail que mandei pra esse jornalista:
Bom dia Eduardo,
Li essa notícia sobre o Tema da Vitória, cantado pela torcida do Flamengo, que agora está com toda essa mídia.
Fiquei chateado, pois a torcida PIONEIRA no Brasil com esse cântico foi a chamada TORCIDA POPULAR, do meu Internacional aqui de Porto Alegre. E eu posso falar tranquilamente pois sou sócio do clube e não faço parte da torcida.
Eis a letra:
"Eu, nunca me esquecerei
dos dias que passei
contigo Inter
Colorado é coração,
trago amor e paixão,
pra sempre Inter"
Fiquei chateado pelo fato de antes a mídia NÃO ter dado destaque à música e agora estarem fazendo essa onda toda falando que a toricda do Flamengo, que é a maior do Brasil, fez uma bela letra, emocionando a todos.
Fiquei chateado porque estou cansado de não reconhecerem nunca quando algo daqui do Sul vem antes do resto do país.
Espero que entenda minha posição.
Um abraço,
Luiz Caldas Milano Junior
Porto Aelgre - RS
Aí Alemão! Leram na Band agora meu email sobre isso!
Pergunta que nao quer calar:
Se o Inter tem tido dificuldades em marcar gols; se o F9 estah em fase questionavel; se o Adrinao eh o goleador do time, e se o Gil vem criando algumas oportuinidaes: por que o Abel nao escala Adrianao e Gil?????????
Eu sei a resposta...soh quis desabafar.
Denilson, temo que incomodar aquelee reporter la pra ele ver uma coisa.
Ae Col_us, se tu sabe a resposta pq perguntou? ahahahahah Pior, que fase!!!!
Denilson, eu falo isso desde que sou piá...
SEPARATISMO JÁ.
EU NÃO SOU BRASILEIRO. SOU GAÚCHO.
O legal da história é que aos poucos me sinto meio parente dos que vão escrevendo coisas e fatos particulares...temos a filha da Dona Dalva...o neto da Dona Elygia hehehe...muito bom...além disso tem o Alemão que quase é meu colega de trabalho diário hehehe...é a Familia BV Colorada!!!
PQP e a merda do grito do flamerda é uma porcaria! Nem se deram o trabalho de fazer uma rima decente!
Como diria um amigo meu, "é bom saber que estamos fazendo escola pelo resto do Brasil"
Eduardo POA
1,2,3;4,5000 queremos que o rio grande se separe do brasil!
1,2,3;4,5000 queremos que o rio grande se separe do brasil!
pessoal. que foto! essa do post
a foto do cachorro do louis naquele lago ou coisa parecida tb ficou legal "pra cachorro" (entenderam o trocadilho, dããã, hehehe)
alemao milano,
depois de tieta, qual sua musica de trabalho agora?
Agora consegui criar um nome que me diferencie dos outros Eduardos!hehehehehehe
Aqui é o Eduardo POA. Mudando o nome para o atual.
Saudações Coloradas! E vamos meter o america no domingo lotando o estádio!
Bah, Rafael. Teu texto me fez lembrar que minha avó tinha um terreno na beira do Itaimbezinho. Desapropriaram por causa do tal parque e pagaram uma mixaria. Bando de FDP!!! Teria um lugar FODA pra passar dias tranquilos...
Mas pode ser que o Mundial mude de sede. Aí tu não vai querer ir pra Yokohama e sim pra cidade da final. ehehehehe
Eu ia falar sobre essa BOBAGEM da Bobo sobre o Tema da Vitória, mas nem adianta. Eles falam no pioneirismo nosso, mas dizem que a "glamourização" é do bando de urubu!! É de fuder o cu do palhaço!!!
Aí pessoal !
Inclui SC neste pacote separatista.
Eu sempre pensei em separatismo, mas eu vejo por outra ótica : um país menor e consequentemente de administração mais facilitada e o poder BEM mais perto do povo.
fernando - floripa,
na boa velho, enquanto eu continuar ouvindo "Gaúcho viado" nos estádios de SC, este estado aí pode ficar com o resto do Brasil que não faz falta nenhuma.
Catarino torce pros times do Rio mesmo...
"Catarina é tudo burro!"
Esqueçam! Nem fodendo o Brasil aceitaria uma separação nossa.
Bonita história Rafael.
Com certeza vai ser um grande presente para sua Avó. Aproveite bastante esses momentos, poisas melhores coisas do mundo acontecem em oportunidades como estas e não tem preço.
Eber Prado
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