Joguei com Carlos Luciano bem antes dele ganhar o mundo. Peladas de infância, mas ali já dava pra se ter noção bem clara de algumas coisas. Por exemplo, ali, já sabíamos que o Carlos Luciano seria inexoravelmente jogador de bola. Já eu, bem... eu tive que procurar outra coisa pra fazer...
Carlos Luciano era um carrapato em campo. Um carrapato movediço, diga-se de passagem. Grudava e jogava. Eu era um magrelo rápido, driblava meu pai, meus tios, meus primos e alguns amigos menos privilegiados nas lides da bola, mas pelo Carlos Luciano eu nunca consegui passar. E talvez isso tenha abreviado minha carreira já aos 12 anos de idade.
Mais novo de três irmãos, Carlos Luciano vem de uma família de colorados fanáticos. Sua mãe, neta de escravos, veio do interior para Porto Alegre trazida pelo meu avô materno, seu Ivo Severo, em meados dos anos 50. Adolescente, negra, pobre e analfabeta, ela veio em busca de oportunidades na capital e foi apresentada às agruras dessa nova realidade da pior maneira possível. Aprendeu a cozinhar, faxinar e a criar os filhos brancos dos outros.
Sofreu, amadureceu, fez de tudo um pouco, das tripas coração, conseguiu construir um barraquinho no Morro do Osso e por fim conseguiu criar seus três filhos com muita dignidade. Dizia ela, sempre: "Meus filhos não vão passar fome como eu passei, não vão pedir esmola e vão ter estudo. Disso eu não abro mão." Dever cumprido, a mãe do Carlos Luciano pode considerar-se uma vencedora. Hoje, seus três filhos estão encaminhados e o mais ilustre, o Carlos Luciano, trata sua mãezinha a pão-de-ló, dando-lhe condições de enfim desfrutar o lado dourado da vida, coisas que ela só via pela TV e nas casas em que trabalhava.
Voltando ao seu filho, Carlos Luciano, sabemos foi desprezado pelo Colorado por culpa de seu biotipo. Saiu daqui antes dos vinte pra tentar a sorte no interior paulista e por lá mesmo se formou jogador. Jogou em três ou quatro times de pequeno e médio porte antes de brilhar num gigante paulista e brasileiro. Tomou conta da cabeça-de-área desse time, ganhou inúmeros títulos por lá, chegou a participar da seleção brasileira e agora tá fazendo seu "pé-de-meia" definitivo no futebol da terceira economia do mundo. Curiosamente, a desgraça do Carlos Luciano foi responsável pela minha maior alegria, na noite de 16 de agosto de 2006...
Pois bem, as notícias recentes dão conta de que o Carlos Luciano está ajeitando seu belo apartamento na zona sul de Porto Alegre. Além disso, já está providenciando a demolição da antiga casinha da família no terreno do Morro do Osso, a qual dará lugar a uma super casa, cheia de conforto e espaço. Por fim, ordenou que sua mãe deixe São Paulo e volte pra capital gaúcha, depois de quase dez anos de "paulicéia desvairada". Carlos Luciano da Silva, o Mineiro, está providenciando seu retorno e preparando sua aposentadoria, em Porto Alegre.
No centenário do clube que amo, provavelmente terei um amigo (portanto, meu bruxo! hehe) na cabeça-de-área do meu time. E o melhor é que - sem bruxismo - ele joga muita bola... o tão proclamado volante que sabe jogar. O que mais posso querer?
Ps.: sabem o que é mais engraçado (ou trágico)? Se depois de tudo que eu falei aqui ele parar no Recreativo da Azenha. Aí eu perco meus "butiás do bolso", como dizem alguns...
Carlos Luciano era um carrapato em campo. Um carrapato movediço, diga-se de passagem. Grudava e jogava. Eu era um magrelo rápido, driblava meu pai, meus tios, meus primos e alguns amigos menos privilegiados nas lides da bola, mas pelo Carlos Luciano eu nunca consegui passar. E talvez isso tenha abreviado minha carreira já aos 12 anos de idade.
Mais novo de três irmãos, Carlos Luciano vem de uma família de colorados fanáticos. Sua mãe, neta de escravos, veio do interior para Porto Alegre trazida pelo meu avô materno, seu Ivo Severo, em meados dos anos 50. Adolescente, negra, pobre e analfabeta, ela veio em busca de oportunidades na capital e foi apresentada às agruras dessa nova realidade da pior maneira possível. Aprendeu a cozinhar, faxinar e a criar os filhos brancos dos outros.
Sofreu, amadureceu, fez de tudo um pouco, das tripas coração, conseguiu construir um barraquinho no Morro do Osso e por fim conseguiu criar seus três filhos com muita dignidade. Dizia ela, sempre: "Meus filhos não vão passar fome como eu passei, não vão pedir esmola e vão ter estudo. Disso eu não abro mão." Dever cumprido, a mãe do Carlos Luciano pode considerar-se uma vencedora. Hoje, seus três filhos estão encaminhados e o mais ilustre, o Carlos Luciano, trata sua mãezinha a pão-de-ló, dando-lhe condições de enfim desfrutar o lado dourado da vida, coisas que ela só via pela TV e nas casas em que trabalhava.
Voltando ao seu filho, Carlos Luciano, sabemos foi desprezado pelo Colorado por culpa de seu biotipo. Saiu daqui antes dos vinte pra tentar a sorte no interior paulista e por lá mesmo se formou jogador. Jogou em três ou quatro times de pequeno e médio porte antes de brilhar num gigante paulista e brasileiro. Tomou conta da cabeça-de-área desse time, ganhou inúmeros títulos por lá, chegou a participar da seleção brasileira e agora tá fazendo seu "pé-de-meia" definitivo no futebol da terceira economia do mundo. Curiosamente, a desgraça do Carlos Luciano foi responsável pela minha maior alegria, na noite de 16 de agosto de 2006...
Pois bem, as notícias recentes dão conta de que o Carlos Luciano está ajeitando seu belo apartamento na zona sul de Porto Alegre. Além disso, já está providenciando a demolição da antiga casinha da família no terreno do Morro do Osso, a qual dará lugar a uma super casa, cheia de conforto e espaço. Por fim, ordenou que sua mãe deixe São Paulo e volte pra capital gaúcha, depois de quase dez anos de "paulicéia desvairada". Carlos Luciano da Silva, o Mineiro, está providenciando seu retorno e preparando sua aposentadoria, em Porto Alegre.
No centenário do clube que amo, provavelmente terei um amigo (portanto, meu bruxo! hehe) na cabeça-de-área do meu time. E o melhor é que - sem bruxismo - ele joga muita bola... o tão proclamado volante que sabe jogar. O que mais posso querer?
Ps.: sabem o que é mais engraçado (ou trágico)? Se depois de tudo que eu falei aqui ele parar no Recreativo da Azenha. Aí eu perco meus "butiás do bolso", como dizem alguns...