sexta-feira, abril 25, 2008

31 Soco na cara

31
Pessoal, quero denunciar um ato de agressão ocorrido na quarta à noite, durante o jogo do Colorado...

Fui pro jogo com um grau de ceticismo relativamente alto: 60%. Cheguei cedo ao estádio, mais cedo do que eu queria, até. O Gigante ainda estava à "meia-luz", quando me acomodei numa cadeira da social. Naquele momento, tudo era uma imensidão solene de concreto e silêncio; este último foi diluindo-se aos poucos pelo murmurinho crescente do povo rubro que chegava.

Lá pelas tantas, quando o murmúrio já era festa, avistei o Nelson lá embaixo, no corredor de acesso das sociais. Sinalizei em meio ao tumulto e ele subiu com o filho e o amigo do filho. Ainda faltava o restante do meio-campo vencedor: Diana, Denilson e Alemão. O Denilson chegou um pouco depois do Nelson e se acomodou duas fileiras abaixo da nossa - os lugares estavam escassos. A Diana chegou em cima da hora e ajeitou-se ao lado do Denilson, mas ainda a tempo de acompanhar a entrada do time em campo. E o Alemão? Bem, o Alemão "pipocou" e desfalcou o meio-campo, mas tudo bem, improvisamos o filho do Nelson na função e seguimos adiante.

A torcida, em pé, afinava o coro tema da noite: Vamo, vamo, Inter!
O jogo começa e o Jonas dá um cagaço geral na torcida e no próprio time. O Paraná aproveita e faz o primeiro.
"- Putz, fodeu!" falei pro Nelson.
O Nelson só sacode a cabeça, negativamente.
- Acabou o jogo! "acho que vou pra casa dormir, ainda é cedo", pensei.

Mas uma explosão rítmica vinda das arquibancadas praticamente ordenou que eu ficasse e ajudasse o time na empreitada. VAMO, vamo, Inter, diziam as arquibancadas.
O Andrezinho parece ter ouvido a súplica e empatou quando os paranaenses ainda comemoravam o seu gol.

Eu, o Nelson e o Beira-rio inteiro comemoramos surpresos, afinal o Inter não é dado a essas superações heróicas: via de regra o Colorado conquista seus maiores títulos sem maiores sustos, priorizando o jogo de futebol e suas variantes táticas. Mas vamos lá, quem sabe, né? Vamo, vamo Inteeeeeerrr!!!

Logo em seguida, o lateral do Paraná é expulso. Beleza!
"- O juiz é nosso!" Comentei com o Nelson, bem baixinho, pra ninguém ouvir...
O Nelson concordou e acrescentou que o jogo estava pro Inter, desde que o time parasse com o chutão pra área e começasse a abrir o jogo pelas pontas. Dito e feito: a bola vai pro Bustos, aberto pela direita, cruzar no pé do Índio, que aparece de surpresa entre a zaga do adversário e manda a bola no canto do goleiro, virando o jogo e incendiando ainda mais o estádio. VAmo, vamo, Inteeeeeeeêêêêêêêêêr!!!

Se sair mais um golzinho ainda no primeiro tempo fecha todas, pensei. E aos 41 minutos do primeiro tempo sai o tão desejado "golzinho". E é aí que coincide a agressão que lhes falei no início do tópico: O Nelson me atinge em cheio com um soco na cara, no meio da comemoração, mais precisamente na boca, no meu dente incisivo. Quero lhes dizer que este senhor, o Nelson, aproveitou-se do momento para me agredir sorrateiramente. Brincadeira pessoal... O Nelson me acertou um soco, sim, mas em virtude da comemoração incontida pelo terceiro gol colorado. Sim, o Nelson vibra e muito com o time, ainda que resmungue cada vez que vê o Abel, Iarley e cia na casamata colorada.
- Pô, tá tudo bem contigo? Desculpa aí!
- Que isso, Nelson... Tá tudo bem! Vamo, Vamo Inteeeeeeer!!!

Vem o intervalo e a Popular começa a cantar suas outras músicas, mudando um pouco o repertório. Lindo, lindo!
Começa o segundo tempo e o estádio volta a ficar de pé, quase que derramando-se por cima do campo de jogo.
Cânticos variados, time mais contido, Paraná tocando mais a bola. O gol vai sair, ah vai!
Dezoito minutos do segundo: o excepcional Magrão sacramenta a classificação, quando mata a bola no peito e gira, chutando-a forte pro fundo das redes paranistas.
Aí o gigante transformou-se num mar de abraços e juras de amor.
- É gol, caralho!!! Puta que pariu!!! AAAAHHHHHHHH!!!! AAAAAHHHHHH!!!! É foda!!!! É foda!!!

Um sujeito de cerca de 50 e poucos anos, sentado uma fileira acima da gente chorava copiosamente, desde o primeiro tempo já, com o radinho colado ao ouvido.
O restante da história a gente já conhece...

Eu levei um soco na boca, fiquei com o dente dormente mas fui dormir feliz. Às vezes a vida nos dá alguns socos no estômago, quando nos priva para sempre de uma pessoa que amamos, por exemplo. É por isso que momentos como os vividos na quarta fazem com que a gente deixe o ceticismo de lado por alguns momentos. Transformam a simplicidade de um abraço num fenômeno vulcânico e atemporal, pois sobrevivem na nossa memória e nos fazem melhores, eu penso. E nos lembram que a vida é de fato efêmera. Então, guardemos, pois, o melhor das pessoas enquanto elas ainda estiverem entre nós. Aproveitemos nossas pessoas, pois em essência são elas que fazem nossos raros instantes apoteóticos.