quarta-feira, julho 16, 2008

7 Década de 1970: onda vermelha, medo azul


Dia 04.08.1971, quatro dias após eu ter completado meu primeiro ano de vida, o Grêmio vencia o Internacional por 3x1, pelo campeonato gaúcho. O resultado não impediu a conquista do tri-campeonato colorado, duas rodadas depois. Além disso, a torcida gremista só voltaria a comemorar uma vitória em clássico 8 dias antes do meu quinto aniversário. Foram 17 clássicos em jejum. O Internacional estabelecia assim a maior sequência de partidas invictas na história do Gre-Nal.

A série começaria no Gre-Nal do primeiro campeonato brasileiro, em 17.10.1971. Aos 25’ do 2º tempo, de pênalti, Sérgio marcou o único gol da partida. O jogo seguinte ocorreria em 02.03.1972, um amistoso no Beira-Rio, que terminaria empatado. Outro amistoso, em 05.03.1972, e novo empate: 1x1. No dia 26.03.1972, outro empate em amistoso: 0x0. Nesta partida, após uma prorrogação de 30 minutos, ocorreu uma decisão por pênaltis, vencida pelo Internacional por 5x4.

O primeiro Gre-Nal oficial ocorreu em 21.05.1972, no Beira-Rio, pelo campeonato gaúcho. O Grêmio esteve duas vezes na frente, no marcador, mas com gols de Pontes e Figueroa, o Internacional garantiu o empate: 2x2. No Gre-Nal seguinte, vitória colorada: 1x0, gol de Claudiomiro. Depois do campeonato gaúcho, os dois clubes participam do Torneio Cidade de Porto Alegre, atuando com equipes mistas. No 1º turno, o Colorado vence por 1x0, gol de Árlem. No returno, nova vitória (2x0), com gols de Escurinho e Volmir. Especialista em cabeçadas, foi em uma delas que Escurinho marcou o gol 700 em Gre-Nais, após uma cobrança de escanteio de Valdomiro. No campeonato brasileiro, em pleno 20.09, Figueroa liquidou o Grêmio: 1x0.

Em 1973, o primeiro clássico foi pelo campeonato gaúcho: empate em 1x1. Em seguida, outro empate – 0x0. No campeonato brasileiro, Valdomiro marcou logo no primeiro minuto de partida, mas aos 44’ do 2º tempo Mazinho empatou.

Na temporada de 1974 o campeonato brasileiro foi disputado no 1º semestre. No Gre-Nal, Bolívar (pai do zagueiro colorado) abriu o marcador, mas Claudiomiro e Valdomiro garantiram a vitória. No campeonato gaúcho (o famoso dos 100% de aproveitamento), Escurinho marcou aos 43’ do 2º tempo o único gol do clássico do 1º turno. No Gre-Nal seguinte, novo 1x0, e o pentacampeonato gaúcho.

Em 1975, tudo começou com um amistoso em comemoração do Dia do Trabalho: 2x0 para o Internacional, dois gols de Escurinho.

O clássico seguinte, em 13.07.1975, seria o último da série. Mas seria inesquecível. Logo aos 4’, o estreante Flávio Minuano estufa as redes de Picasso: 1x0. Antes que o grêmio conseguisse assimilar o gol, Carpegiani amplia, aos 13’. Parecia que ia ocorrer uma goleada, mas o Grêmio decide reagir, pois jogava em casa. Aproveitando-se do fator local, e do fato que Escurinho não voltava para ajudar na marcação, o Grêmio passa a pressionar, e após grande jogada de Zequinha, Falcão marca contra: 2x1. O time da Azenha pressiona, e tem chance de empatar ainda no 1º tempo. Mas Minelli manda Valdomiro recuar para ajudar o meio-campo, e as chances gremistas diminuem.

No 2º tempo o jogo arrasta-se sem muitas oportunidades, até um acontecimento chave: aos 25’, Tarciso dribla Figueroa e parte para marcar o gol. Mas fez a jogada de maneira tão estabanada que chocou seu rosto com o cotovelo de Figueroa. E o juiz nem marcou falta no zagueiro colorado! A torcida gremista, de poucos conhecimentos sobre as regras do futebol, passou a vaiar Agomar Martins, que, se errara, foi a favor do Grêmio. Mas as vaias irritaram Figueroa. Descontente com a agressão de Tarciso e as vaias gremistas, o chileno decidiu empurrar o time para a frente. O Grêmio, que jogava em casa e perdia a partida, teve de contentar-se com contra-ataques, de pouco efeito contra a defensiva colorada. E o Internacional voltou a criar jogadas de perigo e perder gols, deixando escapar a chance de golear o adversário.

Dez dias depois, o grêmio venceria um clássico, por 3x1. Mas seria um acontecimento nos rubros anos 1970.

Lista dos clássicos invictos:
17.10.1971 Internacional 1x0 – campeonato brasileiro – F
02.03.1972 empate 1x1 – amistoso – C
05.03.1972 empate 1x1 – amistoso - F
26.03.1972 empate 0x0 – amistoso – C
21.05.1972 empate 2x2 – campeonato gaúcho – C
06.08.1972 Internacional 1x0 – campeonato gaúcho – F
20.08.1972 Internacional 1x0 – Torneio Cidade de Porto Alegre – F
30.08.1972 Internacional 2x0 – Torneio Cidade de Porto Alegre – C
20.09.1972 Internacional 1x0 – campeonato brasileiro – C
20.05.1973 empate 1x1 – campeonato gaúcho – C
05.08.1973 empate 0x0 – campeonato gaúcho – F
11.11.1973 empate 1x1 – campeonato brasileiro - F
24.03.1974 Internacional 2x1 – campeonato brasileiro – C
29.09.1974 Internacional 1x0 – campeonato gaúcho – F
01.12.1974 Internacional 1x0 – campeonato gaúcho – C
01.05.1975 Internacional 2x0 – amistoso – C
13.07.1975 Internacional 2x1 – campeonato gaúcho - F


PS: O nome do artigo foi baseado em no livro "Onda negra, medo branco", de Célia Maria Marinho de Azevedo, que trata dos temores dos senhores de escravos diante da grande população negra do país, no século XIX.
PS1: Perdi a referência do site de onde retirei a foto do gre-Nal, aqui exposta, por isso deixo de mencioná-la.


7 Comentários:

Marco disse...

- Pai, o que é "tetra"?

O pai virou-se para o filho, que olhava atentamente para a televisão preto e branco, onde um bolo de jogadores de calções brancos e camisa em tom cinza claro se abraçavam. Olhou novamente para a televisão e percebeu o motivo da pergunta:

- Tetra é campeão quatro vezes seguida. O Inter é tetra-campeão gaúcho, ganhou quatro vezes seguidas o campeonato.

Este menino tinha o coração tomado pelo Atlético-MG, graças à inapagável lembrança que tinha de um certo Dario, o Dadá Maravilha, flutuando no ar, como um beija-flor, um helicóptero, enquanto esperava a chegada da bola para golpeá-la e mandá-la para o fundo das redes.

Ficou curioso e esperou ansiosamente a chegada da quarta-feira, que traria a revista Placar às bancas para saber mais sobre aquele time que era tão bom que era "tetra".

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Não me lembro da capa da Placar, mas lembro-me como se fosse hoje, agora, quando peguei a revista nas mãos e procurei avidamente pela reportagem sobre o "tetra".

Ali estava! Várias outras coisas se revelaram ao mesmo tempo! Então aquele tom de cinza-claro era vermelho, logo vermelho que era minha cor preferida! Seria destino? Já estava em algum cromosso de meu DNA que eu seria Colorado, ou melhor, já era Colorado mesmo sem saber?

Foi assim, naquele dia, que descobri minha grande paixão: o Internacional.

geoband disse...

Que cotovelo, hein? Acho que o pijaminha que recebe o carinho do Figa é o Tarciso, hehehe...

Daniel Chiodelli disse...

"Mas fez a jogada de maneira tão estabanada que chocou seu rosto com o cotovelo de Figueroa. E o juiz nem marcou falta no zagueiro colorado! A torcida gremista, de poucos conhecimentos sobre as regras do futebol, passou a vaiar Agomar Martins, que, se errara, foi a favor do Grêmio."

huahuahuahuahuahuahua

Demais!!!!!!!

Daniel Chiodelli disse...

Prof. Raul, ontem escrevi que a primeira estrela na camisa colorada havia surgido com o título de 75. O Leonardo me chamou a atenção para o fato de que quando o Inter adotou as estrelas, colocou logo as duas do bi 75/76, o que teria ocorrido em 77 ou 78.
Saberias nos dizer, precisamente, quando surgiram a(s) primeira(s) estrela(s) na camisa colorada?
Baita abraço!

Raul Pons disse...

Daniel:

Já surgiram em dupla, as estrelas. Mas a data precisa eu não tenho. Acho que foi em 1978, mas pode ter sido já na temporada de 1977.

Daniel Chiodelli disse...

Valeu, professor! Aprendi mais uma hoje!

Schroder-EUA disse...

Como sempre um otimo Post do Raul trazendo a Historia colorada ao Blog Vermelho!

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