A Bunda Branca Produções já havia conquistado prêmios, era sucesso de crítica quando perdeu Monique, sua estrela. Carlos Roberto, que não é bobo, passou a buscar novos caminhos, talvez alguma outra iniciativa.
Foi quando um dia, sem querer, esbarrou na colega do outro setor, Glória. A ela jamais mostrou suas produções, não sabia se ela sabia, sabe? Nunca usou seu prestígio de bem sucedido “cineasta alternativo” para chegar mais perto. Diante dela, o astro lembrava mesmo era de seu stile champignon proferido por Monique. Se em raros momentos cogitou a hipótese de que nem todas vêem “as coisas” do mesmo jeito, a imagem do fracasso lhe causava tanto sofrimento que era melhor não arriscar.
- Desculpa, disse um nervoso Carlos.
- Eu é que peço, respondeu a sorridente Glória.
E pra surpresa do sujeito tremilico, ela disse:
- Carlos, tá quase no fim do expediente, eu quero muito tomar uma cerveja de fim de tarde, vamos?
- Ccclaro.
Foram pra um bar muito próximo às casas de ambos, eram vizinhos, pra alegria platônica de Carlos Roberto, que pediu uma Xingu. Ela quis uma Polar. Conversaram por um tempo até que Glória virou-se para Carlos e disse com olhar tranqüilo e franco:
- Carlos, eu sei da Bunda Branca, todo mundo sabe. Não tenho opinião formada sobre o trabalho, mas sei que sem a Monique tu deves estar procurando uma substituta.
- Mas Glória, eu pensei que...
- Antes que te empolgue, não quero me candidatar.
- ô...
- Eu quero te propor algo novo, que não tem a ver com o atual enfoque. E não é necessário abandonar os filmes “para adultos”.
Carlos parou por um instante, com olhar longínquo, mirando a fileira de lâmpadas que iluminavam, suspensas, o balcão do bar. E respondeu:
- Um selo.
- Exatamente.
E assim nasceu o Seios Anatômicos, um selo da Bunda Branca Produções. A proposta seria lançar filmes sobre histórias de vidas privadas, ou seja, cada Seio Anatômico lançado no mercado tem um formato exclusivo. Pouco tempo depois o nome acabou encurtado pra Seios, uma espécie de rendição – cada Seio é, por natureza, Anatômico.
Glória tinha o primeiro roteiro, inspirado em Luis Fernando Verissimo, que no livro Traçando Madrid cria uma espécie de fábula, contando seu encontro com o fantasma do Goya – pintor espanhol. Na versão da aspirante, uma arquiteta colorada encontra em Barcelona o fantasma do Gaudí.