Permita-me contar o que se passou neste domingo, no Beira Rio. Mas antes disso, peço desculpas por não saber de sua história até ontem, quando questionei o motivo do minuto de silêncio e ouvi seu nome nos auto-falantes do estádio. Soube mais tarde que foi sua iniciativa fornecer diariamente ao craque Tesourinha dois litros de leite e meio quilo de carne, quando este foi contratado pelo Internacional para tornar-se ícone do Rolo Compressor. Bem dito seja seu legado e tento aqui me redimir da ignorância que esquece o passado.
Pois bem, o senhor partiu às vésperas da bola rolar no gramado do Gigante, em jogo emblemático, contra o vice-líder Goiás, tendo este no seu plantel ninguém menos que Fernandão. Já o nosso Inter, com quatro desfalques, além de estréias e retornos carentes de ritmo de jogo. Todo cenário montado para vitória no grito, sofrimento na veia e sufoco de noventa minutos.
Eu tenho algumas convicções, formadas no decorrer de minha mísera história de vida, se comparada a sua, de 95 anos - a maioria deles, tento agora saudar, dedicados à nobre causa colorada. Mas três de minhas certezas fizeram valer o desfecho do fim de semana. A primeira não posso tomar como minha, pois é universal e diz respeito ao senhor: o único destino certo da vida é a morte. Sua ausência entre nós, num belo domingo de sol, diz tudo.
A segunda foi profecia que anunciei neste mesmo espaço há pouco tempo: atitudes tomadas sob efeito de rancor não produzem bons resultados. Esta é um tanto ambígua, pois não que tenha, para nós colorados, gerado conseqüências desfavoráveis. Muito pelo contrário, foi ótimo. Mas cabe ao eterno ídolo. Acredite Sr Gildo, Fernandão foi expulso aos treze minutos de jogo, por uma cotovelada que (quase) deu em Magrão.
A terceira trata sobre o quão mágico e irônico, talvez por isso apaixonante, se apresenta o futebol. Foi nesta que me apeguei no quente dezembro, onde tudo indicava uma vitória arrasadora da seleção catalã sobre os latinos de vermelho e branco: o placar não dá garantias antes da bola rolar. E mais, quando tudo indica que há um resultado certo numa partida, é porque vai acontecer o contrário.
Lastimo que o senhor não tenha visto, por isso lhe conto. O internacional venceu o Goiás por 4x0, com atuação brilhante. Fabiano Eller jogou por ele e por Kleber, que não desperdiçou tamanho auxílio pelo lado esquerdo. Magrão mandou no meio campo. Giuliano dali pra frente e o nome do jogo é um rapaz que talvez o senhor tenha partido sem conhecer, o garoto Marquinhos. O primeiro gol foi dele. E que golaço.
Reafirmando esta última convicção, creio que desperto um sorriso de sua alma rubra. O segundo gol foi marcado logo após a expulsão do emblemático ex-capitão colorado. Sabe por quem? Pelo atual, Guiñazu.
Descanse em paz, senhor Gildo Russowsky. O mundo segue dando voltas, o Inter segue nos surpreendendo, enlouquecendo, cativando. E nada vai nos separar.
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