Acompanhar o clube do coração, paixão (ou seria vício) que me remete desde os tempos que me conheço por gente (ou projeto de gente) é uma tarefa hercúlea se tratando daqueles que vivem no exterior.
Coloque na balança uma diferença de fuso horário considerável (4 horas a mais no meu caso) somado a uma parca exposição de nossos jogos ao vivo (na globo internacional 3 a 4 jogos por campeonato, e no PFC um jogo a cada 2 ou 3 rodadas) e tem-se configurado um cenário onde assistir um jogo do colorado em tempo real é um evento, quase um privilégio.
Pois bem, quarta-feira passada, data do embate contra o Corinthians, seria um desses dias privilegiados para este que vos escreve, pois a Globo Internacional transmitiria o jogo.
O “único” inconveniente seria o horário, 01:45 da madrugada. O horário, aliada a uma rotina de quem diariamente chega em casa do trabalho as 20:00 hs e acorda as 5:50 da madrugada (viva o trânsito de Luanda) apenas mostra o quão custoso seria a tarefa.
Custoso ou não, ao peso de me arrastar na quinta-feira, comprometendo minha produtividade laboral, praticamente dormindo em cima do teclado, já fiz este “sacrifício” inúmeras vezes (só para constar, acompanhei todos os jogos da CB após passarmos pelo Guarani).
O time vinha embalado, 4 vitórias seguintes e a retomada da liderança do campeonato nacional parecia próxima. Cenário perfeito para eliminarmos um dos concorrentes diretos ao título e para dar continuidade a boa fase. Seria uma longaaaa quinta-feira, pois este jogo eu não iria perder.
Tomado por um surto inexplicável de bom senso, não madruguei para fazer uma das coisas que mais gosto nessa vida: acompanhar o colorado. Simplesmente, não vale a pena. ESTE time ao menos não paga comprometer as minhas escassas 5 ou 6 horas de sono diárias. Sábia escolha.
Sábado, data do confronto com o Palmeiras, o horário seria mais acessível: 22:30 da noite. Se tratando do domingo o dia sagrado para “dormir até fazer bico”, este “jogo de 6 pontos” sem dúvida eu não iria perder.
Cerveja na mão, PFC sintonizado e sofá aprumado. Vamo vamo Inter!
E o que eu vejo? Uma gororoba. Sim, uma gororoba.
Sempre achei Tite um bom técnico, apesar do discurso enfadonho. Mas neste Internacional, seu trabalho é no mínimo aquém das expectativas.
O jogo que eu vi, taticamente falando, foi constrangedor.
O Inter é a equipe que menos finaliza a gol no campeonato brasileiro. Sabe porque? Porque Alecssandro não raras vezes está no campo de defesa ou no meio de campo, sabe-se lá fazendo o que.
Presença de área, nem pensar, e aqui absolvo nosso ataque, porque seria capaz de passar 30 minutos sem receber uma bola decente se não voltasse pra buscar jogo.
Taison cisca, cisca, mas não tem efetividade nem objetividade nenhuma. Isso quando não some do jogo por infindáveis minutos.
Andrézinho e Giuliano são bons jogadores, mas não são capazes de municiar o ataque. Não entram na área para concluir, e raramente são jogadores agudos, especialmente o primeiro.
D´Alessandro, jogador de exceção técnica, também já sofreu o desgaste de uma mecânica de jogo onde poucos realmente defendem, muitos recuam, quase ninguém arma e poucos produzem algo de efetivo.
Sandro e Guiñazu infindáveis vezes tem que se desdobrar pra compensar um meio de campo capenga e extremamente defensivo e mal posicionado.
Sobrecarregados, cometem faltas em demasia e têm seu rendimento prejudicado. São ótimos jogadores, mas quando a engrenagem não funciona, as peças definham.
Nas laterais, vejo excelente potencial em Kléber para ser um ala, quase um armador pelo lado esquerdo do campo, mas aí vem as chamadas linhas de quatro (literalmente “de quatro”) e o resultado é a nulidade pelos lados do campo que estamos acostumados.
Por fim, o time acuado e com uma retranca burra traz o adversário para seu campo, que de tanto insistir uma hora acaba recompensado.
É necessário placar adverso para a equipe deixar um pouco o ferrolho defensivista de lado e começar a jogar bola. Geralmente tarde demais, pois não me lembro de termos revertido um placar ainda neste campeonato.
Em tempo, ao sair o segundo gol palmeirense fiz algo que nunca faço: parei de assistir. Já sabia o resultado final do jogo.
Enfim, não vejo mecânica de jogo. Não vejo um mínimo de orientação tática e não vejo a mão do treinador nesta equipe, que repete os mesmos erros e a mesma postura medrosa diante de adversários de maior envergadura.
Não se trata de nomes, pois se o grupo não é o melhor do Brasil, tem potencial e qualidade para estar apresentando um futebol muito melhor que o apresentado.
Pior ainda é ver que estamos praticamente em Setembro e o conceito de futebol não evolui, ao contrário. E ainda vem a ladainha dos reforços e bla-bla-bla. Haja saco.
Falta postura e gana de time vencedor, que faz pressão na saída de bola adversária e que busca o gol a todo o momento, com vários jogadores no campo de ataque.
Porra, falta gana!!!!! Este discurso conformista me deixa p**** da vida. Sempre há uma desculpa, um porém, uma justificativa.
Ah, e é claro, a gororoba.
Desculpe Tite, mas você está refém de suas concepções táticas equivocadas, incapaz de reagir e fazer correções de rotas.
É pedir demais um mínimo de organização, funções e papéis bem definidos e desempenhados, e acima de tudo, sem defensivismo excessivo?
Bons jogadores não fazem necessariamente um bom time. É necessário um bom comandante que extraia todo o potencial do grupo. Não adianta investir fortunas na maior folha salarial do país se o comandante se mostra inapto para a tarefa.
Talvez seja a hora de investir também em um treinador de ponta. Porque eu sinceramente estou cansado da mesma gororoba.
A Amnésia (ou porque acreditar) - Ato II
Porque este é um campeonato brasileiro que prima pelo equilíbrio; não há uma grande equipe ou um bicho papão.
Porque talvez os deuses do futebol intervenham e do nada o time se ajuste.
Porque os resultados vêm colaborando e não podemos abdicar de um campeonato que mal e mal atingiu sua metade.
Acima de tudo pela amnésia. Eu me repito milhares vezes que não vou mais acompanhar o time, que o ano está perdido, e que a repetição dos erros dos anos anteriores é inevitável. Isto nada mais é que a tendência e o bom senso.
Mas ai, inexplicavelmente, vem o coração, a emoção sobrepujando a razão e eu sofro de amnésia. Esqueço os problemas, a mediocridade, as tendências.
Simplesmente esqueço o ontem, e anseio por um hoje melhor. Não adianta, é mais forte que eu.
Sôfrego de esquecimento, hoje torço por uma improvável vitória contra o santos e uma retomada de bom futebol, nenhuma (ou quase nenhuma) gororoba e três pontos na tabela.