segunda-feira, junho 01, 2009

61 2 0 1 4

61
Veio o anúncio oficial do que já sabíamos, Porto Alegre será uma das sedes da Copa do Mundo 2014. Espero sinceramente que nós gaúchos consigamos de uma vez por todas debater de maneira produtiva os projetos que serão fundamentais para realização da maior competição do futebol mundial.

Creio que estamos todos cansados da discussão que leva do nada a lugar nenhum. Sempre nos orgulhamos de sermos um povo politizado e questionador, mas já há algum tempo perdemos o discernimento na condução do que inicia no papel, cega na tribuna e morre antes mesmo de nascer.

Uma Copa do Mundo traz sim muitos investimentos, crescimento e reflexos na estrutura das cidades. A Alemanha triplicou o lucro em turismo desde a Copa de 2006. A Liga Alemã de Futebol é hoje a segunda maior em receitas na Europa, perdendo apenas para Inglaterra, graças ao Mundial.

Deixemos de lado a paixão enfraquecida, de outrora grande euforia, pela Seleção Brasileira, sentimento comum no extremo sul do país, ao que parece (vide público do jogo Brasil e Peru pelas eliminatórias) e não de maneira infundada. Assistimos durante anos a venda de uma seleção “a granel”. Com ela se foi o brilho que nos trazia ao olhar. Brilho este que se voltou com força total para nossos times do coração, reforçado pela rivalidade que também nos orgulha, porém, mais uma vez, evidencia nossa quedinha pelos extremos.

No entanto, se quer será preciso amar a canarinha de peito aberto pra fazer um evento de grande porte e importância indiscutível para cidades, estados e país. Serão contabilizados bilhões em gastos públicos e privados. Tudo isso pode valer e muito se estivermos interessados na transformação de todo investimento em retorno econômico e social da população, em todos os seus níveis.

Seu João que vende pipoca a dois reais vai vender a quinze (três euros) durante a Copa e talvez possa, em frente ao Museu Iberê Camargo, vender a dez reais depois da competição, firmado o turismo em Porto Alegre. Mas seu João terá dois caminhos, encher os bolsos e gastar no verão em Tramandaí, ou aprimorar sua banquinha, oferecendo, quem sabe, caldinho de feijão e cachaça produzida em Santo Antônio da Patrulha e comercializada a trinta reais o martelinho – pra inglês ver. Então seu João vai pagar a metade da mensalidade na PUCRS para sua filha cursar Relações Públicas, pois a outra parte ficará por conta do pequeno hotel, onde a moça promoveu através da internet a divulgação das diárias mais modestas para hóspedes espanhóis, por sessenta euros.

Estarei agora, de forma inconseqüente, elitizando a pipoca? Não, pois alguém acha que algum parisiense compra uma garrafa d’água em frente ao Louvre? Eles dobram a esquina e sabem o mercadinho pros “de casa”. E o cara que vende água tem vida digna, explorando o potencial turístico da cidade. Não vai interessar os séculos que separam valor histórico de monumentos aqui e lá, quando nestas terras estiver acontecendo o Mundial de Futebol. A diferença estará em saber tirar proveito antes, durante e depois do evento.

Futebol é negócio e esta frase ganhou status de filme de terror, durante anos, na comparação entre Clubes Brasileiros com Europeus. Contudo, aos poucos fomos tomando gosto e corpo no mercado. Nem por isso o Inter deixou de ser intenso, apaixonante; ao contrário, foi mais longe, sempre acompanhado do grito e empenho do seu torcedor. É bem verdade que a nova realidade afastou aquele colorado humilde das arquibancadas, mas então, aí está a chance de promover seu retorno. Do pipoqueiro ao empresário, só pode dar certo ou errado, por causa ou culpa, de todos nós.

Saudações ao incansável Giuliano e ao menino Tales Cunha. O primeiro por mais uma boa partida e o segundo, pelo gol de gente grande, oportunista e certeiro.