segunda-feira, junho 30, 2008

10 Aqui e aí, a vermelha e la roja

10
1. Queremos...

... Um time novamente campeão. Não vi o grenal, enquanto escrevo ainda não conferi o lance polêmico do pênalti. Dos comentários que li ontem concluí que jogamos bem. Sendo assim, deixo o fórum falar por mim, com sua insuperável característica democrática. Venho lhes dizer sobre o que queremos e da receita para tal. É simples, mas não de graça. É até questão de sorte, mas não por acaso. Pra falar a verdade conhecemos a fórmula, tento agora relembrar.


2. “Podemos”...

... É o slogan de uma campanha em apoio à seleção espanhola na Eurocopa, idealizada pelo canal 4, emissora televisiva do jornal El País. Logo que cheguei à Espanha me deparei com um princípio de crise econômica, até agora negada pelo governo, em concomitância ao espírito de Copa do Mundo. A população alternando entre protestos por meio de greves em setores: pesca e transportes; e envolvimento visceral com sua seleção, torcendo mesmo. Saíram às ruas com megafones, reivindicando subsídios ao combustível que tem seu preço em alta perigosa. Contudo, vestiram as mesmas “calles” de vermelho, com bandeiras, fardados, pintados e cantantes: La roja.

Aquilo de situação econômica e social misturada com futebol é obra de ficção ou mera coincidência? Nenhuma das alternativas. É a vida mesmo. Aqui ou onde for, o futebol já foi vendido, comercializado, abusado, violentado, roubado, escravizado, crucificado e renasce a cada mobilização essencialmente popular. Na terra dos assentos estofados, onde tento galáctico se comemora com aplausos contidos, o grito flamenco esbravejou sua dor e extravasou sua rara alegria por todas as praças.

Quarenta e quatro anos de jejum e a primeira seleção, depois de muitos anos, com cara de Espanha, ao invés de refletir o branco dos merengues. Imprensa, notícias, críticas à convocação, fogo em Luis Aragonés. Tensão, vontade, esperança, tesão, cumplicidade, superação. E começa a Eurocopa. A cada partida o grupo foi se fortalecendo e individualidades aparecendo.

Alguém já viu isso em algum lugar?

David Villa foi o primeiro e artilheiro, Marcos Senna o segundo e mais importante. Orquestrou o meio campo, embora tenha confiado a batuta à Xavi na final, de impecável atuação e eleito o melhor jogador da Eurocopa. Iniesta, Fábregas e Torres, nada mal o meio pra frente. Esses nomes não foram absolutos por toda competição. Com exceção do gol, zaga e Senna (insubstituível) revezaram diversas vezes durante a campanha titulares e reservas. E todos corresponderam, sendo que um havia jogos em que me parecia abdicado de si e por isso, criticado, el niño Torres. Jogador de movimentação inteligente, fez brilhar companheiros, mas não havia tido ainda o seu momento. E que momento.

O alemãozinho peleou, encarou na malícia, na raça e marcou o golaço que selou tão esperada vitória à Roja.

Alguém aí já viu um loiro de camisa vermelha decretar o fim da espera?

A Espanha ganhou porque mereceu. Jogou bonito e aguerrido. Nem os números contestam: equipe menos vazada e mais ofensiva. E os méritos se justificam, do goleador Villa ao craque eleito Xavi. Simbiose perfeita de equipe e torcida. Foi o que tinha de ser, na hora certa, como eclipse. E teve dose de sofrimento vencida nos pênaltis contra a Itália. E teve a grande partida, goleada na semi contra a Rússia. E teve final com gol filho único frente à Alemanha de Ballack. Tantas vezes o vermelho dessa camisa foi subjugado, subestimado, por outros e por si mesmo. Eu confiei mais na seleção que os próprios espanhóis, temerosos pelo estigma do “quase”. Por que? Porque vi um grupo qualificado e unido como rocha. Porque vi todos os componentes de uma campanha inesquecível. E porque eu já vi esse filme.

Por isso eu digo junta toda essa promessa com um novo contexto. Não somos mais quem espera na fila, contudo não queremos ao fim dela voltar. Sendo assim ergue o nariz, retoma a memória e te pergunta colorado, podemos?