terça-feira, julho 21, 2009

42 Placa Luminosa

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A ambição é o que move um grande clube de futebol. Aliás, uma das medidas dessa grandeza é justamente a cobrança que sua torcida faz. Comemorar, celebrar, festejar títulos do passado é importante, mas quem vive de passado é museu. É preciso ter a constante ambição de renovar esses títulos.

Para ilustrar melhor o que penso, cito como exemplo os letreiros luminosos do Beira-Rio, alusivos à vitória na Copa do Mundo de Clubes. Acho que nesses letreiros deveriam constar, também, o ano em que conquistamos a taça. Assim, ficaria explícito que fomos Campeões do Mundo em 2006, mas também que queremos vencer de novo em 2010, 2011, 2012... Caso contrário, fica a impressão de que ganhamos uma vez e isso nos basta.

Claro que vencer sempre é impossível, mas jogar com essa ambição é uma obrigação! Só que não vi isso anteontem. Assisti a um Inter superior tecnicamente ao seu adversário. Jogando com naturalidade, com tranquilidade, abriu o placar, fez 1 x 0 e aparentemente dominava a partida. Mas o que um time jamais pode confundir é tranquilidade, serenidade, com soberba, com apatia. Ou será mera falta de ambição?

O Inter de domingo confundiu as coisas e foi cedendo espaço em seu campo defensivo, com a empáfia de quem subestimava o adversário. O que o time parece ter esquecido (não sei se com a conivência da casamata), é que em futebol, muitas vezes o mais fraco vence o mais forte, justamente pelo fator anímico.

Todo mundo sabia que o adversário vinha de sete confrontos diretos sem vitória, sendo quatro derrotas consecutivas. Bastava olhar para a tabela do campeonato e perceber que uma derrota para aquelas bandas seria muito mais catastrófica que para o nosso lado. Só que o que se viu foi passividade diante desse quadro, e não mobilização dobrada.

Às vezes, me questiono se nossos dirigentes trêm presente na memória, quando falam à imprensa, que estão, na verdade, se comunicando com a sua torcida, com os seus 100 mil sócios que abastecem mensalmente os cofres do clube e que, ao final de cada biênio, votam!

Mas mais que isso, uma declaração de um dirigente ou de um integrante da comissão técnica sempre na mesma toada, minimizando os tropeços, acaba por deixar nas entrelinhas que vencer, já não é mais tão importante. E isso, contamina o vestiário.

De declaração em declaração, vou sentindo uma soberba reinando no Beira-Rio, algo que me incomoda. Primeiro porque faz com que nos distanciemos das nossas origens, as quais deveriam estar sendo resgatadas e preservadas neste ano do centenário do clube. Depois, porque essa arrogância acaba entrando em campo. “Somos melhores”, “somos superiores”, só que ao repetir essas frases, nos esquecemos de que a essência do povo colorado é ter que provar isso todo santo dia.

O que sinto falta, no Beira-Rio, hoje, é de um cara carrancudo e mal-humorado. Um cara que quando perde fica até mal-educado. Quero um cara que demonstre toda a insatisfação da torcida quando não vence e que não fique de sorrisinhos e arrotando grandeza quando ganha, porque já está pensando na rodada seguinte.

Quero alguém que tenha fome de vitórias, não importa o quanto já se tenha vencido no passado. Quero alguém com sede de títulos, falando aos quatro ventos que o quer é ser campeão. Não quero alguém que se contente com menos, com vagas ou vices. Quero alguém identificado com a massa, com o povo, com a nação colorada. Senão, vai demorar muitos anos para mudarmos aquela placa luminosa.