Uma simples reflexão nos permite verificar que poucas são as pessoas que atingem os cem anos. A nossa vida, como regra e em média, dura menos do que isso. Bem, mas do que é feita a vida? Alguns dirão que a vida é feita dos grandes momentos, de momentos de felicidade, de alegria e satisfação. É claro que não é só isso. Valorizamos a alegria, a felicidade, em razão do sentimento contrário, que é a tristeza. Logo, é possível concluir que a nossa vida é feita de todos os momentos vividos. Alguns inesquecíveis pela felicidade, outros inesquecíveis e indesejados pela infelicidade. Pois bem, se destacarmos o período de cem anos na história da humanidade, isso significa muito pouco, digamos quase nada. Mas cem anos na vida de um clube de futebol, na vida do nosso Inter, o que significa?
Ora, significa muito, transbordando daquilo que ordinariamente poderíamos imaginar. Falo nisso pelo componente da paixão, do envolvimento quase sem precedentes na nossa existência.
Agora quando estão em curso os festejos dos cem anos, quando se aproxima a data do nosso centenário, me surpreendo pensando não em títulos, em conquistas, em grandeza patrimonial, mas naquilo que o Internacional representa na vida de milhões de pessoas espalhadas pelo mundo e muito especialmente no Rio Grande do Sul.
Imagino quantas e quantas vezes nesses cem anos em todos os recantos, pais e mães festejaram o nascimento de filhos projetando o seu futuro como colorados. Penso, paradoxalmente, inclusive porque sei de alguns casos, das inúmeras pessoas que terminaram a vida diante de emoções provocadas pelo time do seu coração. É assim, nos melhores e piores momentos da nossa existência, quase como um sentimento religioso, lá está ele.
Aquele amor inexplicável, aquela emoção inigualável, aquele romper de limites e de barreiras sem precedentes. Lá está ele, com o símbolo, hino, bandeira, jogadores, estádio, mascotes. Lá está ele, o Internacional, o querido Colorado, o nosso Inter de todos os momentos. Presente sempre. Ás vezes provocando o nosso mau humor, ás vezes a nossa incontrolável manifestação de alegria, verdadeira explosão em nosso peito. Fazemos amigos e inimigos por ele. É ele que baliza a nossa agenda, com a previsão dos jogos e competições que participa. Ele está sempre presente em nossas vidas e, nesses cem anos, em incontáveis vidas. Em lares de todos os tipos, unindo e afastando pessoas, em celebrações ou em momentos de frustração, é ele que nos faz rir, pular, chorar e viver.
Imagino o que significa na vida das milhares de crianças que entram no gramado com os jogadores pisar no solo sagrado, em momento quase mágico. No primeiro jogo que testemunhamos no estádio, no primeiro gol com o qual vibramos, na roupinha de bebê, nas bandeiras sobre ataúdes, nos abraços dados em desconhecidos na sinfonia da multidão em expectativa e uma só palavra me vem à mente: paixão.
É ela que importa para que se possa afirmar que a existência do nosso Clube é infinita, perene. É ela que faz com que sejam superadas as dificuldades.
Pois bem, 4 de abril é um marco em nossas vidas, principalmente porque as circunstâncias nos colocaram como testemunhas dessa existência. Não poupemos nossos esforços nem emoções, vamos soltar a nossa voz, abrir o peito, ostentar as nossas cores e bradar: somos colorados, somos campeões de tudo, temos cem anos de orgulho e de grandeza.