quarta-feira, dezembro 29, 2010

13 A falácia da unificação dos títulos

Há poucos dias atrás a CBF, após forte pressão de vários clubes e de setores da imprensa do centro do país, resolveu “unificar” os títulos nacionais, igualando Taça Brasil, Robertão e Campeonato Brasileiro.

O principal argumento para esta unificação era a “reparação histórica” frente a clubes e craques que venceram competições anteriores ao campeonato brasileiro, e não eram devidamente valorizados.

Porém, o que se viu é que foram fundamentalmente interesses políticos, e não históricos, que levaram a essa unificação. Clubes com poucos títulos, ou que há muito não vencem uma competição de expressão, na falta de capacidade de voltar a vencer um campeonato, optaram por fazer um “upgrade” em velhas taças, dando-lhes uma nova conotação.

O Robertão, em teoria, até poderia ser associado ao campeonato brasileiro. Foi esta competição que serviu de base para a criação oficial do campeonato brasileiro, em 1971. Sua edição de 1970 constava na relação de campeões brasileiros da CBD até 1973. Mas é preciso ressaltar, por exemplo, que a edição de 1967 não foi organizada pela entidade máxima do futebol brasileiro (a CBD) e sim pelas federações do RJ e SP.

Outra competição que entrou na unificação foi a Taça Brasil, competição criada para indicar o representante brasileiro na Taça Libertadores. Como o próprio nome já diz, era uma taça (copa) e não um campeonato.

Em vários países de ponta do futebol mundial, as competições começaram através de copas. Foi assim na Inglaterra, em 1872 (campeonato em 1889), na Espanha, em 1902 (campeonato em 1929), na França, em 1918 (campeonato em 1933), e em Portugal, em 1922 (campeonato em 1935). Em nenhum destes países, quando começou a ser disputado o campeonato, alguém pensou em “unificar” títulos, ou transformar em campeonato nacional a copa nacional. Mesmo em casos como a França e Portugal, onde existiram competições similares ao campeonato nacional, em períodos anteriores, estes torneios também não foram “unificados”.

Se compararmos a Taça Brasil à competição atual que lhe corresponde, a Copa do Brasil, encontraremos duas atitudes distintas, mas nascidas de um mesmo equívoco. Até a pouco tempo, a Taça Brasil era menosprezada pela CBF, sendo menos valorizada que a Copa do Brasil. A competição sequer contava pontos para o Ranking da CBF, de critérios questionáveis. Agora, ganhou uma importância muito superior à Copa do Brasil. Enquanto esta competição, na opinião da própria CBF, é inferior à Série B (no ranking da entidade, o campeão da Série B ganha 40 pontos, e o campeão da Copa do Brasil, 30), a Taça Brasil é realçada ao nível do campeonato brasileiro. Mesmo que, assim, alguns clubes tenham conquistado o campeonato brasileiro com apenas 4 partidas. O que impede, hoje, um clube campeão da Copa do Brasil de se considerar campeão brasileiro? Segundo a lógica da unificação, nada. Juventude, Criciúma, Santo André e Paulista podem se considerar legítimos campeões brasileiros.

Valorizar a história e reconhecer a importância de competições como a Taça Brasil e o Robertão é fundamental. Mas modificar o passado para atender a interesses políticos é um crime contra a história e a cultura de um povo.

13 Comentários:

San Tell d'Euskadi disse...

Concordo que a maneira como foi conduzido o assunto tenha sido nojenta, e a busca dos clubes para que a CBF carimbasse as conquistas era absolutamente ridícula, mas a equiparação é justa.

No BloGreNal do Mundo Esportivo, mantemos um linque para o interessante estudo de Os Campeões do Brasil. Lá, eles são favoráveis à equiparação total dos títulos. Vale a pena ler, mesmo que se discorde.

Abraço e um feliz 2011 a todos.

Schroder-EUA disse...

Essa unificação é uma das coisas mais ridiculas que já vi no futebol.

Hoje mesmo no Globo Esporte falaram do Fluminense de 1970 e referiram a ele como Campeão Brasileiro. A Globo parece ter aprovado a ideia...claro pra eles dá mais material agora pra recuperar e fazer reportagems. Ninguem nunca falava no Flu de 70 por exemplo e agora é "Campeão Brasileiro" e fazem reportagens no GE.

Ridiculo mudar a historia do Futebol. Em 83 o Flu não comemorou o Bi ...porque 30 anos depois iriam inventar essa bobabgem.

San Tell d'Euskadi disse...

Só para esclarecer, ainda acho que o que vale mesmo é quem ganhou POR ÚLTIMO.

Ainda assim, são interessante pesquisas históricas (como as do BV, sobre os primeiros títulos colorados!). No site que eu citei, por exemplo, pode-se ver que o fato de ter outros campeões invictos não tiram o mérito do Inter de 1979. Aliás, parece que valoriza: com 23 jogos e 16 vitórias, ninguém chega perto.

Outro dado que valoriza a história colorada é o fato de o Inter ser o maior campeão do Brasileirão "off-eixo" e estar na frente do Botafogo, mesmo tendo participado pela primeira vez do campeonato (pelos critérios deles) na 17ª edição.

O que derruba o Inter são as copas; exatamente o que levanta o [censurado]. Isso só apimenta mais a discussão...

Abraço.

Saulo - Santa Maria/RS disse...

minha contabilidade é feita somente dos títulos da Libertadores e Mundiais e talvez até mesmo Sulamericana. O resto já virou chinelagem.

Schroder-EUA disse...

Unificação = Bolsa Familia para clubes de Futebol

Schroder-EUA disse...

Anotem aí galera...é questão de tempo antes da CBF e outros quererem apagar o TRI Brasileiro do Inter.

Já fuderam com o Invicto UNICO do Inter...já fuderam com o Inter ser o PRIMEIRO TRI BRasileiro...logo mais vão dizer que 75,76,79 não valeram como Brasileirão. Vergonha.

Unificação => Pra torcedor Carente

Raul Pons disse...

Quando começou a história de unificação, o que se pleiteava era o reconhecimento da Taça Brasil e do Robertão como títulos nacionais.

Até aí, tudo bem. Realmente eram títulos nacionais. Mas daí a considerarem a Taça Brasil como campeonato brasileiro, há uma distância imensa.

O mesmo argumento que o Odir Cunha usa para "justificar" a unificação, o fato de que a imprensa da época tratava os clubes vencedores da Taça Brasil como campeões nacionais, pode ser usado contra a unificação, nos parâmetros pretendidos (igualar as competições): em 1971 a imprensa tb anunciava que seria disputado o 1º campeonato brasileiro.

O Internacional é, de fato e de direito, o único clube a vencer um campeonato brasileiro invicto. Outros campeões nacionais invictos existem, mas venceram outras competições.

Adriano disse...

em 2005 fizeram aquela coisa repugnante.

pensei e falei na época: se hj estão fazendo isso esperem pra ver o que vai acontecer no futuro.

dito e feito!

cada vez mais esculhambação!

essa manobra desnivelou totalmente as coisas.

outra, se hj em dia com tv e tudo ja roubam de apa imaginem naquela epoca.

sinistro.

Kraint disse...

Perfeito o texto do Raul Pons.

O nosso futebol tá cada vez mais avacalhado.

Isso só mostra que o INTER precisa sempre jogar muito mais do que a CBF, o STJD e a arbitragem além dos adversários em campo. E diria que mais até que a imprensa em geral.

É o INTER contra todos. E isso deveria servir como motivação no vestiário e na direção. Ganhar todos os títulos possíveis sobrando, mesmo com toda essa roubalheira.

Esse brasileirão, o tetra roubado várias vezes (além de 2005, ouço historias do meu velho que roubaram no inicio dos 70s pra Palmeiras e Vasco contra o INTER em 2 brasileirões).

O tetra, como disse, nunca vem. E precisa vir.

Mas com Roth...

Que 2011 nos reserve boas surpresas e que vejamos em campo um time raçudo que represente o nosso amor pelo colorado.

Boa virada de ano a todos!

Ike disse...

Parabéns pelo post professor! Concordo 100% com as tuas colocações! Faltou ainda o detalhe das arbitragens ridiculamente tendenciosas que prejudicavam sistematicamente os times fora do eixo rio-sp e praticamente inviabilizavam que qualquer outro clube ganhasse estas competições.

Mas o importante mesmo é olhar pra frente, o INTER soube superar todo esse bairrismo e se firmar como o melhor time das américas na década, que fiquem os demais brigando pelos títulos do passado, enquanto nós seguimos atras dos do futuro!

Ramon Dongo disse...

Se a Itália inventou o catenaccio, nós temos o canetaço!

GILSON - PR disse...

O futebol no Brasil está cada vez mais nojento, com esses tipos de dirigentes que comandam o cbf só devemos esperar esse tipo de ação. Os cartolas da cbf são baseados em modelo de políticos do início do século XX, são os típicos coronéis que procuram manter seus privilégios e de seus comparsas a qualquer custo. Roubam, mentem, trapaçam, corrompem, matam...

O futebol dos times periféricos(fora do eixo Rio-sampaulo) devem ser muito superior para conseguir alguma façanha.

Se eles querem reparar alguma injustiça devem pelo menos dividir o título de 2005 entre curintians e INTER. Isso sim é reparar injutiça, não ficar agradando o safado do pelé. Não podemos esquecer que o maior responsável pela falência de muitos clubes no Brasil foi ele. Ao criar a lei pelé o futebol saiu das mãos dos clubes e foi enriquecer os empresários pilantras que ganham milhões por cada transação de jogador. São eles que entregam jovens talentos ao futebol europeu sem deixar nenhum benefício aos clubes brasileiros.

Para corrigir a quebradeira e as dívidas dos clubes o governo precisou remediar com o timemania.

Pelé não é esse cara legal que a imprensa paulista e carioca mostra, ele foi um pilantra que criou uma lei para benificiar a si próprio.

roberto disse...

Senhor Raul, somente hoje, dia 02/11/2011 li seu post e gostaria de fazer alguns comentários:
1o. Considerar que o campeonato brasileiro começou apenas em 1971 é o mesmo que dizer que não havia futebol antes disso e a própria CBF reconhece a sua fundação como sendo da antiga CBD que foi a organizadora da taça brasil. Alem disso o objetivo do Camp. Brasileiro é indicar o melhor clubes do país e direcioná-ló para disputar a libertadores. Neste quesito a Taça Brasil foi por 8 anos a única competição a ter este status. Alem disso, toda a imprensa da época noticiava o campeão da taça Brasil edo Robertão como campeões nacionais. Outro ponto: o que distingue a importância de uma competição não é o número de jogos ou o formato de disputa e sim a sua essência e seu objetivo. O próprio Camp. Brasileiro teve mais de trinta formulas diferentes ao longo dos anos e alem disso tambem teve variado número de cometidores chegando ao absurdo de 94 participantes em 1985. Quantidade não significa necessariamente qualidade tanto de participantes quanto de número de
Partidas. Em 1979 vários times paulistas abriram mão do brasileiro para disputar o estadual que era na mesma época. O fato do Robertão ter sido organizado pelos Clubesdo RJ e SPnao podemos esquecer que a Copa união de 1987 e a Copa João havelange (o termo Copa foi utilizado em varias edições do campeonato brasileiro) foiorganizada pelo clubeA dos 13 e nem por isso a CBF deixa De considerar estes clubes como campeões. Recomendo a leitura do livro DOSSIÊ UNIFICAÇÃO DOS TÍTULOS BRASILEIROS A PARTIRDE 1959.
Grato
Roberto Dias Alvares

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