A efervescência de um GreNal deixa tudo falar por si. De tal maneira que recompor em palavras é praticamente desnecessário, quando a seqüência de imagens torna qualquer coisa dita muito menor.
Parece que ao descrever como tudo aconteceu será possível repetir a sensação daquele momento. Algo muito difícil, convenhamos. Nem com um milhão de predicados eu conseguiria retomar precisamente a explosão daquele instante em que se confirmou o derradeiro pênalti. Portanto, melhor mesmo é aceitar que não se repete e assim sendo, que se renove.
Por isso fecho os olhos e revisito o gramado aos 16 minutos, quando o Grêmio abre o placar, mandando no jogo. Permito minha alma repleta de vermelho renovar os votos dementes que naquele momento empenhei por reação. Agora vejo, melhor, revejo a substituição de Juan, que apesar de boa atuação escancarava o desequilíbrio na formação do time, além de perigar outro amarelo. Volto ao lance de Damião, brigando e chutando sem ângulo. A bola batendo na trave e morrendo nas redes. Morto nada!
Repenso o efeito GreNal em Índio, caso de estudo. E por falar em efeito, nada é mais motivador que um precoce “Olé!”. Grata aos coirmãos, por terem provocado os brios colorados com tamanha efetividade. Nem Falcão conseguiria.
Recordo a cobrança de escanteio, rebote afortunado nos pés de Andrezinho que bateu em cheio. Tamo no jogo! Vida longa à perseverança. Quero sempre renovar meu espírito sonhador, pra que nunca me falte reação. Todos os que se protegem no conforto pragmático estão na verdade fingindo ser suficientemente esclarecidos, por medo de assumir que fé move passos largos inusitados entre utopia e realidade. Torcer com lealdade inexplicável é a própria definição de coragem. E não há qualquer empecilho em conviver com ficha técnica e sinal da cruz.
Como posso repetir em algumas linhas tal surpreendente atuação de Zé Roberto? Alguém cogitou? Repassa o filme com a cena dos últimos passos culminando em pênalti claro e tiro livre certeiro de D’Alessandro. Inevitável pular dessa parte para o fim, com merecido último lance. Não seria de mais ninguém na tarde de domingo, o privilégio do golpe final.
Por isso Renan soltou aquela bola. Por isso Damião não converteu (só aquele!). Por isso Kleber no alto de sua frieza bateu e Vitor pegou. Foi por esta razão que o próprio Renan se redimiu bravamente. Foi assim que D’Alessandro fez o dele, que Bolatti e Oscar cobraram bem demais, que Nei abaixo de suspeita não tremeu. Tudo isso aconteceu para que Falcão superasse Renato na pressão da partida, restaurando seu próprio erro e chamando a campo um meia/atacante que curasse o isolamento de Damião. Toda essa história foi escrita sem volta para que um jogador inesperado mudasse a partida, batesse o último pênalti, liquidando a fatura do campeonato.
Nenhum momento pode voltar igualzinho ao que já foi. Que venham novos clássicos, tombos e façanhas, Zés, Andrés, Leandros ou tanto faz. Recordações existem pra que a gente volte a momentos exclusivos de nossa trajetória. Mas é na incapacidade de sentir exatamente a mesma coisa apenas através de lembrança que reside eternamente nosso ímpeto de renovar. E isso, caros amigos, não é lição de imortalidade, é apenas (re)viver.